Sem noção de amor fraterno// O homem agride o irmão,// Num ato que mostra o inferno// Que traz no seu coração.
Rosa Regis Brincando com os Versos
Pensares que se transformam //espalhando poesia, //pegam carona no vento// enchem meu ser de alegria
Textos
A EDUCAÇÃO DO JOVEM NA REPÚBLICA DE PLATÃO - Folheto I (atualizado)
A EDUCAÇÃO DO JOVEM
NA REPÚBLICA DE PLATÃO
  
    (Filosofia em Cordel)
         Por: Rosa Regis

folheto I

Peço a Deus que me oriente
Pegando na minha mão
Para que eu possa fazer,
Com amor no coração,
Um trabalho agradável,
Sendo também responsável,
Na República de Platão.

Dando uma lida geral,
O meu olhar chega brilha
Analisando os Diálogos.
- Oh, meu Deus, que maravilha!
Sinto como um transcender
Passando, aí, a escrever
O que na mente fervilha.

Escolho um tema ao qual possa
Discorrer mais facilmente
Pois uma cabeça velha,
Esclerosada, doente,
Demente quase a ficar,
Já não pode se arvorar
A pensar fluentemente.

O tema aqui trabalhado
Será a educação
Que deverá ter o jovem,
Segundo o sábio Platão,
Para que ele venha a ser
Um dia, quando crescer,
Um completo cidadão.

No Livro Dois da República
Tem início a discussão
Em diálogos, que aponta
Qual seria a educação
Que uma criança teria
Para tornar-se, um dia,
Um perfeito guardião.

Nossas crianças queridas
Não devem ser enganadas
Por mentiras descabidas,
Pelos poetas, criadas.
Pois, verdinhas como estão,
Elas absorverão
As criações malfadadas.

Deve-se, pois, educá-las
Crendo num Deus de Bondade
Que não engana seus filhos
Pois é, em Si, a Verdade,
A Justiça, a Bonança,
Amor, Paz e Esperança,
Onde não há veleidade.

E sendo um deus de bondade
Não pode ser causador
De tudo, mas só do Bem,
Já que em Deus só há amor.
O mal de outra fonte vem.
Uma outra causa tem.
Não foi Deus seu criador.

Que elas creiam na justiça
Onde o mal será, enfim,
Sempre pelo bem vencido.
Tendo, também, como fim:
Só a verdade falar.
Nela, sempre, se apoiar,
Pois a mentira é ruim.

O guerreiro da República
De Platão, o guardião,
Por ser bom, naturalmente,
Será filósofo, então;
Colérico, ágil e forte,
Pois praticará esporte
Tendo assim um corpo são.

O corpo será formado
Pela ginástica constante.
Para a alma serão músicas
E fábulas, não obstante,
As fábulas terão que ser
De forma a fazer crescer
O amor ao semelhante.

As mães e as amas têm
Que muito bem trabalhar
As almas dos seus pequenos
Pois lhes cabe educar
As crianças para o bem
Com fábulas onde ninguém
Que faça mal, vá ganhar.

Como já foi dito, é lei,
Na República de Platão,
Qualquer que seja o discurso:
Público ou composição
Poética, não se dirá
Que só a Deus caberá
O mal e o bem, então.

Tão só o Bem cabe a Deus
Pois ele é Bondade Pura.
Não é deus enganador,
Não engana a criatura.
Imutável, Bom e Belo.
O mais puro. O mais singelo.
E à mentira esconjura.

Sendo assim, Deus abomina
A mentira, seja qual for.
Porém em algumas fábulas,
Onde ela faz louvor
Ao Bem, ao Belo, ao Bom,
A coisa muda de tom
Pois representa o Amor:

O amor que eleva a alma;
O amor que faz crescer;
O amor que faz o homem
Sua pátria defender.
O amor que vai levar
O guardião a lutar
Corretamente, e vencer.

Os guardiões da cidade
Da República, deverão,
Desde a mais tenra idade,
Ter na sua educação:
Aos deuses e aos seus pais,
Devem honrar por demais
Como bons filhos que são.

E devem valorizar,
Tendo o apreço devido,
A amizade e a concórdia.
Isso tudo faz sentido!
Pois não há coisa mais bela
Que a vivência sem querela
De um povo sempre unido.

Mas, se são homens valentes
Que se deseja formar,
Homens que não temam a morte
Ao com ela se deparar,
Deverão ser educados
Pra não serem derrotados
Quando o inimigo enfrentar.

Também que eles sejam homens
Que não abriguem o temor
Da existência do inferno
Com seu fogo abrasador,
Sendo que: as lendas entendam
Tal qual fábulas. Compreendam
Como histórias sem valor

Já que essas narrativas
São falsas, não verdadeiras!
E inspira desconfiança        
Às nobres classes guerreiras.
“...Homero que me perdoe!”
Diz Sócrates: “boa parte foi,
Do que ele disse, asneiras.”

Não é que a poesia
Na sua escrita faleça
Nem que os nossos ouvidos
De ouvi-las não agradeça,
Mas, é que, no seu teor,
Da morte, transmite horror,
E faz que o homem esmoreça.

Na República, os guerreiros,
Como sábios que serão,
Não devem considerar
Que a morte de um irmão,
De outro sábio, de um amigo,
Seja um mal; seja um castigo;
E mereça lamentação.

Os lamentos e as queixas
Só à mulher vão caber.
Mas só àquela que é frágil!
E ao afeminado, um ser
Sempre sensível e chorão.
Pois estes jamais irão
A cidade defender.

As histórias inventadas,
Criadas – as ficções,
Deverão ter seus heróis,
Os deuses, com emoções
Muito bem equilibradas.
Ou seja: bem controladas.
Belos em suas ações.

Pois que o jovem guerreiro
Que está sendo preparado
Pra defender a cidade,
Terá que ser educado
De forma a não se exceder
No choro ou no riso. Ser
Tranqüilo. Nunca agitado.

A Deus, não cabe mentiras.
Elas tão só poderão
Serem tidas como úteis
Em alguma ocasião,
Se usadas pra curar
Alguém ou para enganar
Inimigos da Nação.

Portanto, só aos médicos,
Deverá ser confiada
A mentira por remédio.
Aos demais será vedada.
A não ser que, como tal,
Ao povo – ao social,
Como um bem, seja aplicada.

Quem quer que venha a mentir
Diante de um magistrado,
Este deverá puni-lo
Por introduzir no Estado,
Como num navio, o mal,
Que poderá, afinal,
Deixá-lo, então, afundado.

A temperança, em Platão,
É fator primordial
Na educação do jovem
Que tem como principal
Função: guardar a cidade
Dos ataques e da maldade
Do inimigo mortal.

Terá, pois, que receber,
Com toda a submissão,
As ordens dos governantes
Controlando a emoção.
Também irá se conter
No comer e no beber,
De forma a estar sempre são.

Jamais se deve incutir
Na alma de um jovem ser
Q’ele ofereça presentes
Para favor obter.
Nem q’ele faça favores
Ou elogie com louvores
Pra presentes receber.

Também não se deve dar
A entender que um deus
Tenha pagado com o mal
Um bem que lhe ofereceu
Alguém que dele queria
Algo que ele poderia
Dar-lhe, mas ele não deu.

Um deus jamais pode ser
Mostrado como o terror:
O que se vinga; o que mata;
Um mau; um torturador:
Aquele que, por vingança,
Rouba e mata uma criança
Da qual foi o gerador.

Na República de Platão
Jamais será permitido
Que um deus ou um herói
Seja falado e tido,
Por seus poderes, capaz
De maltratar. Não o faz.
Isto não é concebido.

As falsas acusações
Que os poetas faziam
Aos deuses e seus filhos,
Forçosamente, teriam,
De acordo com Platão,
De voltarem atrás. E, então,
Elogios lhes fariam.

Pois que, os discursos falsos,
Que pecam contra a verdade
E contra a religião,
Onde um deus faz maldade,
Só iriam incentivar
Aos jovens a praticar
Atos de perversidade.

Depois de deuses, heróis,
Infernos, genialidade,
Os poetas quando falam
Do homem, em realidade,
Os valores são trocados:
Os maus são abençoados.
Os bons sofrem de verdade.

O maldoso ganha sempre!
Ao bondoso, se critica.
A injustiça é proveitosa
Se dissimulada fica.
A justiça é, para todos,
Útil, porém um engodo.
Um mal para quem pratica.

Pensando, então, no perigo
Que isso acarretará
À educação do jovem,
Sócrates, pois, deixará
O assunto e, em seguida,
Matéria e Forma acolhida
Pro discurso, falará.

Dependendo da matéria
Examina-se a forma              
Onde se escolherá,
Seguindo, é certo, uma norma,
O assunto a ser tratado,
Que ao jovem será levado.
E a discussão retorna.

Discute-se se a Comédia
E a Tragédia poderão
Serem aceitas no Estado
Da República de Platão,
E se os seus defensores
Devem, ou não, ser “doutores”
Na arte da imitação.

Para se fazer bem feita
Qualquer que seja a ação,
O homem tem que, a ela,
Dar total dedicação.
Quando se tenta imitar
Mais de uma coisa vai dar,
No fim, numa negação.

Os guerreiros da cidade,
Que são os seus guardiões,
Não poderão dedicar-se
À diversas profissões,
Só poderão dedicar-se
Às coisas que vão ligar-se
Ao seu labor, sem senões.

Só a defesa do Estado
É que vai lhe interessar.
Se, por acaso, houver
Algo para imitar,
Que seja algo que venha
Torná-lo melhor, que tenha
Algo que o possa elevar.

Não fazer nada que possa
Um dia se envergonhar,
Nem mesmo imitando alguém.
A não ser se precisar.
Mas, de forma bem singela,
Que não vá causar querela
Com a pessoa que imitar.

Pois, na cidade sonhada,
O plano de educação
Do guerreiro, que será,
Da República, o guardião,
Certamente irá seguir
As regras que vão banir,
No geral, a imitação.

Já se falou dos discursos,
Das fábulas que comporão
O plano de ensino que
Prepara o guardião,
Onde a música será
Muito importante. Irá
Ajudar na educação.

Agora chegou a vez
De falar da melodia,
Que traz consigo – em seu bojo:
A Palavra, a Harmonia,
O Número, e vai tentar
Sua influência mostrar
No tocante à sabedoria.

A lídia mista; a aguda;
E outras que se assemelham
A elas, são lamentosas.
Tais harmonias espelham:
A embriaguez, a moleza,
A preguiça. E, com certeza,
Ouvi-las não se aconselham.

A jônica e a lídia, laxas,
Que dizem afeminadas!
Que são tocadas em festas,
Essas serão descartadas.
Ao guerreiro – Guardião
Da República de Platão,
Não serão aconselhadas.

Restam a dórica e a frigia:
A primeira a representar
A coragem do guerreiro
Sempre pronto pra lutar.
A outra, representando
A sabedoria, quando:
Sorte, ou má sorte, gerar.

São, pois, a dórica e a frigia
As harmonias que irão
Ser reservadas e usadas
Na República de Platão
Para educar o guerreiro,
O futuro e verdadeiro
Filósofo – O Guardião.

Para a cidade, a lira
E o alaúde, estão,
Como para o campo, o pífano,
Que os pastores tocarão,
Sem grande variedade.
Como deve, na verdade,
Ser educado o varão.

Tal qual se fez com a harmonia,
No ritmo se evitarão
O variar das cadências
E a multiplicação
Destas, indo-se buscar:
Ritmos que vão expressar
Um caráter bom e são.

Aí, fala-se da graça.
Ou da falta dela, então,
Que afinal vai depender
Somente da perfeição,
Ou imperfeição: É dito,
Se perfeito, que é bonito!
Se for imperfeito, não.

O Número e a Harmonia,
Em sendo belos, irão
Seguir, certamente, a
Beleza da locução
Tal como a palavra feia
Que enreda em sua cadeia
Harmonia e ritmo, então.

Pois os ritmos foram feitos,
Tanto quanto a harmonia,
Pras palavras, e não estas
Para aqueles se faria.
Mas, terão que acomodar-se
Ao discurso. Encaixar-se.
Isto é mesmo primazia.

A beleza das palavras
Com uma bela dicção,
A harmonia e a graça,
Manifestações serão,
Pois, da bondade da alma,
Que, mansa, bondosa e calma,
Dirige, do homem, a ação.

Todas essas qualidades
Acima mencionadas          
Deverão ser pelo jovem          
Guerreiro, sempre buscadas,
Pra que realize, assim,
As tarefas que, enfim,
Foram a si confiadas.

Assim, também, com a pintura,
O mesmo irá se dar.
Com as belas-artes, com a arte
De tecer, com a de bordar;
Com a arte da mecânica;
Com a produção na botânica;
Com a arte de edificar.

A graça ou a deformidade
Que numa obra aparece
Valoriza ou diminui,
Enriquece ou empobrece;
Mostra saber e bondade
Ou desprazer e maldade.
Enaltece ou desmerece.
         ...        
Aqui vou dar uma pausa.
Mas, convido o leitor
A novo encontro. E prometo
À Senhora...  ao Senhor...
Que logo aqui voltarei
E, em cordel, eu trarei
O que faltou do teor.

Fim


Rosa Regis
Rosa Regis
Enviado por Rosa Regis em 22/09/2008
Alterado em 02/10/2010
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