Sem noção de amor fraterno// O homem agride o irmão,// Num ato que mostra o inferno// Que traz no seu coração.
Rosa Regis Brincando com os Versos
Pensares que se transformam //espalhando poesia, //pegam carona no vento// enchem meu ser de alegria
Textos
A LENDA DO BATATÃO DE FOGO ou ESTÓRIAS DE PESCADOR


uma adaptação
do conto de MC GARCIA
A LENDA DO BATATÃO-DE-FOGO
do seu Livro POVAREJO


por: Rosa Regis


Mais um conto recontado
Aos leitores passarei
Do nosso MC GARCIA
Com quem, um dia, travei
Um papo e, uma aliança
Fiz com o mesmo, e alcança,
Hoje, o seu feito. Falei!

E a Lenda do Batatão-
De-Fogo vou recontar
Em setilhas, bem rimadas,
Se Deus assim me ajudar.
Farei com muito carinho
Tentando fazer certinho
Para que possa agradar.

Certo dia dois amigos
Pescadores convidaram
Um amigo jornalista
E mar adentro rumaram.
A idéia, ali, seria
Mostrar uma pescaria.
Ao jornalista. Afirmaram.

É que o dito jornalista
Queria participar
Duma pescaria in loco
Para poder registrar
Aquela realidade
Numa pesca de verdade
A noite inteira no mar.

Quem sabe, faria um livro!
Contando a tal pescaria
E todo o preparativo
Que, para a tal, se faria:
A noite dos pescadores,
Seus sucessos, suas dores,
Até o raiar do dia.

Chegou o dia, afinal!
Ou a noite, a bem dizer!
Lá se foi o jornalista
Feliz da vida e a morrer
De medo, por outro lado,
Pois nunca havia embarcado!
Estava, pois, a tremer.

E enquanto os dois pescadores
Vestiam-se, simplesmente,
Com uma roupa rotineira,
O amigo, tendo em mente
O medo de ser picado
Por inseto, empacotado
Vai. E diz ser previdente.

Os amigos riram dele
Que disse a olhar a esmo.
Ora! “Um homem prevenido
Bem vale por ele mesmo!”
E lá se vão pra maré,
Os três, caminhando a pé
Naquele caminho ermo.

Tratava-se, a pescaria,
Duma espécie de tapagem
Onde fincavam-se varas
Na lama, numa e outra margem,
Antes da maré encher.
Por isso tinha que ser
À noitinha. E eles agem.

Nas varas punham a rede,
Enquanto a maré subia,
Estendida. E esperando
A maré que alcançaria
Nível máximo, arriavam
A rede e a fixavam
Às forquilhas, findo o dia.

Quando a maré começasse
A baixar, então, seria
A hora tão esperada
Para a dita pescaria
Do amigo jornalista
Que sonha por na Revista
Tudo que ele ali veria.

E, aí, não perde um detalhe
Do que fazem os pescadores,
Que não demonstram cansaço
E nem reclamam de dores.
Como escritor realista,
Que é, tudo vê e lista
Com detalhes e com cores.

Passava da meia noite
Quando a maré começou
A vazar. E a rede presa
Por forquilhas, já fechou
A vala, encurralando
Os peixes que assim, pulando,
Belo espetáculo doou.

A uma certa distância
Estava o pesquisador
A observar, boquiaberto,
O espetáculo encantador
Sendo proporcionado
Pelos peixes. E, encantado,
Viu que era compensador.

O belo da Natureza
Mostrava-se ali, em parte,
Num quadro espetacular
Como uma obra de arte:
Peixes dos mais variados,
Aos pulos, e misturados.
Não é quadro de descarte.

E os pescadores que nunca
Tinham visto peixe assim
Em quantidade tamanha,
Felizes, dizem por fim:
- O nosso amigo é “pé quente”!
Trouxe sorte para gente.
E que continue assim!

Noite escura como breu!
A canoa clareada
Pela frágil lamparina
Que logo foi apagada
Pela brisa, agora forte,
Do vento vindo do Norte.
Já não se via mais nada.

Agora, na extensão
Da palavra, "tudo é breu"!
Até mesmo a consciência
Do amigo escureceu.
A alma fica tomada
Pelo terror. Congelada!
Porém logo se aqueceu.

O medo é atenuado
Por uma luz que ele viu:
Uma luz vinda das águas
E que em seu ser refletiu.
Uma luz que não se apaga?!
Temeroso, ele se indaga.
E novo medo sentiu.

Hesitou, porém querendo
O momento registrar,
Enfrentou os seus temores.
Queria documentar
Aquele momento único,
Transcendente, mediúnico,
Não deixaria passar.

Como documentarista
Não poderia deixar
Que o medo o dominasse.
Teria que controlar
O medo para poder
Registrar e transcrever
Tudo, sem nada escapar.

De repente, em sua mente,
Algo o faz entender,
Perfeitamente, que aquele
Fogo nada tinha a ver
Com a luz da lamparina
Pois era uma luz mais fina,
Intensa, e sempre a crescer.

Um fogo devastador,
Incrivelmente a andar
Na superfície das águas,
Buscando algo pra queimar.
Pior, é que em direção
Dos seus amigos, então,
Ia o mesmo a se espalhar.

Os pescadores, felizes
Com a grande quantidade
De peixes, nem percebiam
O perigo, na verdade.
O amigo tenta avisá-los
Que o fogo irá alcançá-los,
Antes que já seja tarde.

Porém a voz não lhe sai
Da garganta. Emudecera.
Procura tranqüilizar-se,
Sair daquela leseira.
Conseguindo abandonar
A canoa, busca chegar
À terra. E sai na carreira.

Precisa buscar ajuda!
Corre, olhando para trás,
Temendo que seja inútil!
Pois o que ele vê lhe faz
Pensar: - Não vou retornar
A tempo para os salvar!
E corre cada vez mais.

E corre como quem voa!
Qual pedra de baladeira.
Só o clarão da maré
Alumia-lhe a carreira.
E no primeiro orelhão
Que topa, faz ligação
Pedindo ajuda ligeira!

Liga para a emergência,
Pro Cento e Noventa e Três,
Que é o Corpo de Bombeiros.
E já passava das três
Da manhã. Àquela altura,
Pensava: - Não tem mais cura!
Morreram mesmo! De vez!

Chegam os bombeiros. Começa
O combate ao inimigo
Que, sobrenaturalmente,
Resiste ao grande castigo.
Trinta minutos de água
Direto. Mas não apaga
O fogo. Lamenta o amigo.

Porém ele e os bombeiros
Não têm superstição!
O perscrutador registra,
Transido de emoção,
Entre o medo e o prazer,
A forma má de morrer
Dos amigos de então.

Todos, já muito cansados,
Decidiram por chamar
Reforço pra combater
O fogo. Para tentar
Fazer que a destruição
Não chegasse à proporção
De devastação sem par.

Nisso, o amigo escritor
Risca um fósforo pra acender
Seu charuto. E vejam só
O que veio a acontecer:
O fogaréu se apagou
E a paz, afinal, voltou!
Ninguém sabe responder

O porquê daquele fogo
Que não matou nem queimou!
Pois, os amigos, ilesos,
Sorridentes, avistou
Com a canoa transbordando
De peixes. Vêm comentando,
Que, o esperado, ultrapassou.

E gritam para o amigo,
Em forma de brincadeira,
Que “ o mesmo é prevenido!”
Já que um caminhão (de feira)
Trouxera para levar
O peixe. E a gargalhar,
Brincam com a sua asneira.

E decorrido algum tempo
O escritor perguntou,
Meio vexado, a um deles:
- Explica-me, por favor:
Que fogo era aquele mesmo?
Pois ainda estou a esmo
Com tudo o que se passou!

- O FOGO DO BATATÃO!
- Não o conhece, rapaz?!
Em seguida, perguntou,
Andando e olhando pra trás:
- Quem foi que o fósforo acendeu?
O in-feliz diz: - Fui eu!
...
E como escritor, escreveu
A LENDA. E o fez bem demais!


Salvador-BA, 15/01/2008 – 03h18min

Rosa Regis
Enviado por Rosa Regis em 10/02/2010
Alterado em 06/12/2022
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