![]() Ao protetor das crianças, Ao meu anjo protetor, Às fadas, aos serafins, Ao nosso Pai Criador, Peço ajuda pra contar Um lindo conto de amor. É uma história criada Por uma amiga do peito Que transformei em cordel, Recontando do meu jeito Mas sem tirar-lhe a essência. Espero ser bem aceito. CHAPEUZINHO AZUL Texto original: Rosângela Trajano Cordel: Rosa Regis Ilustração: Danda Há muitos e muitos anos Nasceu uma menininha Na rua, e nela criou-se, Junto com sua mãezinha. Sabia como era triste Dormir no chão, ao relento, Com frio, sem cobertor, Por vezes sem alimento. Tudo das ruas sabia. A coisa que mais gostava Era ver o colorido Dos carros quando passavam. No semáforo ganhava Alguns trocados no dia Os quais a mamãe juntava Mas de cachaça bebia. A menininha, coitada, Nunca se deu ao prazer De comer um chocolate Para o seu gosto saber. Ou mesmo um algodão doce Pra sua vida adoçar Até os seus sete aninhos Pois não podia comprar. Um passeio com amiguinhos No circo ou parque infantil Ela não tinha direito. Nunca viu um pastoril! Certa noite a menininha Que dormia na calçada Fria, com sua mãezinha, É por alguém visitada. Alguém que se aproximou À menina agasalhando Com uma capinha azul Foi de manso, se afastando. Se foi homem ou foi mulher, Ninguém soube, ninguém viu Que aliviou o frio Da menina. Que a cobriu. Sabe-se é que a menininha A capinha conservou Sempre na sua cabeça, Dali nunca mais tirou. Assim Chapeuzinho Azul Passou a ser o seu nome. E nunca mais sentiu frio Mesmo dormido com fome. Sua mamãe que bebia, O que de dia ganhava Como “flanelinha” a grana Para a comida faltava. Bebia para esquecer A tristeza. Ela dizia. E bebendo até cair No chão, nele adormecia. Chapeuzinho Azul se via Sozinha e desprotegida, Tendo, na mais tenra idade, Que enfrentar tão triste vida. Um belo dia a mamãe De chapeuzinho ganhou Um pacote de docinhos E a menininha chamou: - Chapeuzinho vá levar Estes doces pra vovó! Eu sei que ela vai gostar! Não se sentirá tão só. A vovó de Chapeuzinho Tinha um passado sofrido, Foi moradora da rua E tinha um péssimo marido. Ele era um alcoolista E fez a mesma sofrer A vida inteira, sem dó, Até esta envelhecer. Quando envelheceu bastante Um grupo anônimo levou A mesma para um abrigo. E ali a vovó ficou. Naquele dia fazia Seus noventa e oito anos De dores, de sofrimentos, Sem ter festa nos seus planos. Chapeuzinho preparou-se Pondo sua capa azul, Se resguardando do vento Frio que vinha do Sul. E dirigiu-se ao abrigo Onde a vovó residia. Sua vovó tinha um lar! Vê-la era grande alegria! Ela tinha onde morar! Diferente da menina. Isso traz felicidade A todos. Pois muda a sina. O abrigo era distante Da rua em que Chapeuzinho Azul morava. E ela foi Feliz, seguindo o caminho. Calçadas abarrotadas De gente que está voltando Do trabalho, a multidão, Vai à menina empurrando. No caminho havia um parque Ecológico que continha Árvores e bichos diversos Desde o elefante à toninha. Porém Chapeuzinho Azul Acostumada à braveza Das pessoas nada teme Do que vem da Natureza. Já havia ultrapassado O semáforo, consciente, Quando de repente um lobo Pulou bem à sua frente. - Ai que susto! Assim você Pode me matar de medo! - É pra ter medo! Eu sou mau! Responde-lhe o lobo ledo. - E o que faz um lobo mau? Perguntou-lhe a menininha. - Engole meninas! Disse. Fazendo uma caretinha. - Ah! Mas a sua barriga Pequena pra me caber, Eu sei, é certo, meus pés Deixaria aparecer. - Menininha não duvide Da minha capacidade! Sou um lobo muito mau! Estou falando a verdade. - Sabe, seu Lobo, eu lhe digo: Quando moramos na rua Desde cedo conhecemos A maldade nua e crua. Você quer ser meu amigo? Perguntou-lhe a menininha Chapeuzinho Azul que era Carente de uma amiguinha. - Amigo? Você quer ser Amiga de um lobo mau? Pergunta o lobo abismado Com sua cara de pau. - Sim! Quero! Respondeu-lhe A menina prontamente. - Eu nunca tive um amigo. Afirmou-lhe consciente. - E se um dia eu lhe engolir? Perguntou desconfiado, Já achando que a menina Tinha o juízo virado. - Eu o perdoarei, pois sei Que não fará por maldade. Mas, porque sentirá fome. Isto eu conheço, em verdade! O Lobo Mau balançou O seu pezinho direito, Coçou a cabeça e olhou A menininha... de um jeito... Com vontade de engoli-la Mas com vontade de ter O amigo que nunca teve. Decidiu por se conter. Todo mundo tinha medo Dele menos Chapeuzinho Azul. Isto o fez tanger Seu pensamento daninho. E ter um amigo em tempos Em que os carros disparados Põe nossa vida em perigo, É garantir mais cuidados. - Aceito ser seu amigo! Disse o lobo de repente. Já perguntando aonde ia A menininha carente. - para onde você vai Com essa capinha azul E esse pacote do lado, Para o Norte ou para o Sul? Respondeu-lhe Chapeuzinho: - Eu estou indo deixar Doces para a vovozinha. E já começa esfriar! Ela mora num abrigo Para pessoas idosas! Hoje é seu aniversário! Vou levar doces e rosas. - Vou com você! Disse o lobo. Porém não fique espantada Se engolir uma velhinha! Sou um lobo mau, mais nada! A menininha pegou Na mão do seu novo amigo, O Lobo Mau, e se foram, Sem temor pelo perigo. Por ruas cheias de prédios E pessoas apressadas. Tudo tinha pressa ali, Nas ruas e nas calçadas. A menina e o lobo juntos Sequer chamou a atenção. Ninguém observou nada E nem fez qualquer ação. Ao chegarem ao abrigo A menina perguntou Onde encontrar sua avó E logo alguém lhe informou. O homem da portaria, Que usava óculos, falou: - Os bichos são proibidos De entrar aqui. Empatou. - Este cachorro pulguento Terá que espera-la aqui. - Ele não é um cachorro! É o meu amigo Jolly. - Seja o que for ele é bicho! Sendo bicho, aqui não entra! Disse o porteiro enfezado, Fechando a cara sardenta. A menininha pensou Nas pessoas que moravam Nas ruas que muita gente Nem confiança lhe davam! Confundindo-as com bichos Até medo e nojo tinham! E de demonstrar tal coisa Seus instintos não continham. Deixou seu amigo lobo A espera na portaria E foi ver sua vovó, Já demonstrando alegria. A vovó que conversava Com outras da sua idade, Parou para recebê-la E abraça-la com vontade. - Boa tarde, vovozinha! Docinhos para a Senhora! E entrega-os à vovozinha Que de emoção quase chora. - Boa tarde, minha neta! Como você está linda! E com esta capa azul Sua beleza é infinda! A vovó nunca cansava De dizer isto à menina. Era sempre a mesma coisa. Queria mostrar-se fina. Ou talvez não se lembrasse Das vezes que havia dito A mesma frase à neta. Já tinha a mente em conflito. Porque dezenas de vezes Já vira a sua netinha Vestida naquela capa. Outra pergunta lhe vinha: Perguntava da idade De chapeuzinho que fingia Nem ouvir mais a pergunta E doces lhe oferecia. - Trouxe doces pra Senhora No seu dia, de presente! - Que gostosura, querida! Coma comigo. Se sente! A vovó fez Chapeuzinho Sentar-se numa cadeira De balanço. Enquanto isso, Quase em tom de brincadeira, Ofereceu-lhe um dos doces, O famoso brigadeiro. Chapeuzinho Azul comeu, Assim, seu doce primeiro. Pois durante toda a vida Jamais havia provado Nem com a ponta da língua Um doce ou mesmo um salgado. Comeria todos eles Se a vovó não interviesse: - Deixe um pouco para mim! A menininha dissesse. A menina conversou Um tempão com sua avó Enquanto comia doces. Mas, lembrou... Não veio só! O Lobo Mau lhe esperava. A menina então guardou Um docinho para ele. E à vovó, dele falou. - Onde está seu amiguinho? Pergunta a idosa Senhora. - Está lá fora vovó, Me esperando até agora. O porteiro não deixou Que ele entrasse comigo E o coitado ficou lá Como se estando em castigo. - Ah! Que pena! Ele não deve Ser de todo mau assim! Cuide dele e ele será Bom no final! Creia em mim! - Ninguém nasce mau, querida! - Mas ele diz engolir As pessoas! Isso assusta! Não há como lhe impedir? - Ah, ah, ah, minha querida! Pelo que entendo e pressinto Ele quer lhe fazer medo! É só um lobo faminto. Chapeuzinho despediu-se Da vovó e caminhou Para a portaria. Ali O lobo logo encontrou. Estava feliz da vida Com a barriga estufada, Não ligou nem para o doce Pois não queria mais nada. - Lobo, o que tens na barriga? Pergunta logo a menina. - Eu engoli o porteiro! Responde o lobo traquina. - Ele bateu-me, espancou-me Com uma vassoura! Sem dó! Tratou-me mal! Não gostei! E aí levou a “pió”! - Mas isso não se faz lobo! Devolva já o porteiro! Você não pode sair Engolindo o mundo inteiro. Você não pode engolir Todos que lhe fazem mal! Se eu fizesse assim também, Pra mim seria fatal. - Vamos! Devolva o porteiro! - Mas... Não sei como fazer! Diz o lobo: - Como posso O porteiro descomer? Analisa a menininha: - Meu Deus! Preciso pensar! Mas só tenho sete aninhos, Precisa alguém me ajudar. E o lobo, cheio de marra, Diz: - Estou de bucho cheio! Por uma semana inteira Eu não vou ter aperreio. - Melhor não pensar em nada! Vamos voltar para casa! Diz o lobo sem pensar Que isto à menina arrasa! O porteiro deve ter algo De bom no seu coração, Não é de todo malvado Malvada foi sua ação. Você não devia ter Feito o que fez! Não se iluda Pensando que agiu direito! Vamos já pedir ajuda! Vamos falar com a vovó, Ela nos pode ajudar. O lobo a segue arquejando. Quase sem poder andar. Voltaram para o abrigo E Chapeuzinho contou Tudo para a vovozinha Que, paciente, escutou. E ao ouvir, com detalhes, Tudo o que o lobo aprontou, Ela virou-se pra ele E, de chofre, perguntou: - Lobo por que engoliste Nosso porteiro? Por que? Quem vai ficar atendendo Na portaria? É você? - sou um lobo mau, vovó! Eu sempre engulo pessoas! - Seu Lobo ninguém é mau! As criaturas são boas! A maldade se adquire! Vamos tirar o porteiro Que está dentro de você Agora, mais que ligeiro. Um segurança do abrigo A vovozinha chamou Para ajudar a salvar O porteiro. Ele topou. Era um homem alto e forte! Foi chegando e segurando O lobo, que esperneava, A reclamar sempre uivando. A vovó abriu bastante A boca dele e botou Chapeuzinho Azul lá dentro. Ela o porteiro encontrou. - Puxe o homem para fora! Gritou de fora a vovó. - Peguei no pé do porteiro, Pode puxar minha avó! Chapeuzinho saiu da boca E o porteiro da barriga Do lobo a quem tudo aquilo Provocou uma fadiga. O homem, muito assustado, Ao ver-se livre reagiu: - Eu quero e vou matar esse Cachorro que me engoliu! - Calma homem! Ele é só Um lobo que precisava De comida! Pois há muito Que já não se alimentava. - Mas o lobo me engoliu! Merece que eu lhe dê fim! - Já ouviu falar de perdão? A avó perguntou-lhe assim. - Não sei o que é perdão Nem quero saber quem sabe! Vou pegar esse maldito Para dar-lhe o lhe cabe! Mas a vovó tenta ainda Convencer o tal porteiro A dar o perdão ao lobo Que dali corre ligeiro. - Jesus perdoou a todos Os que lhe fizeram mal Você deve perdoar Pra ser feliz no final. Enquanto a vovó fazia Arrodeios e tentava Chamar o homem ao perdão, O lobo já se mandava. Foi para longe do abrigo, Chapeuzinho Azul atrás Porém mantendo distância Das suas intensões más. O lobo estava faminto Novamente. Ela podia Ser presa fácil pra ele, Que engoli-la poderia. Pois sendo o lobo animal, Seu instinto é engolir Não interessa quem seja, Tão só para se nutrir. - Vamos comigo! Ela chama. Quem sabe á noite aparece Alguém pra deixar comida! Fala a ele, como em prece. - Melhor não ir com você, Menininha! Pode ser Que eu engula muita gente! Não sei se vou me conter. - Eu sou mesmo um lobo mau! Responde-lhe a menininha: - Não lhe tenho nenhum medo! Fala, enquanto o acarinha. Você já não me faz medo! Já disse! Venha comigo! Você não é mau, seu bobo! Além disso, é meu amigo. Os dois caminharam juntos Pelas ruas da cidade Novamente, admirando A Natureza em verdade. O Céu estava estrelado, Lindo! Mas os restaurantes Recheados de comidas Lembrou a fome de antes. Ronca a barriga do lobo E ronca a da menininha. Se fora toda a sustância Dos doces da vovozinha. Uma Senhora tomou Um susto com o Lobo Mau; Alguém, em um restaurante, Expulsou o lobo a pau. - Menina e cachorro sujos Vão para longe daqui! Os fregueses não suportam Esse cheiro de piquí! Caminharam mais um pouco E viram, numa lixeira, Alguém que jogava restos De comida. Bem ligeira, A menina encaminhou-se Para lá, chamando o lobo, Que correu mais que depressa! Pois pensou: Eu não sou bobo! Chapeuzinho, acostumada Que era a virar o lixo, Sem falar já começou A comer qual sendo um bicho. Deu uma asa de frango Ao amigo Lobo Mau Que comeu tudo! Ficando Depois daquilo, no grau! - Está satisfeito Lobo? - Huummm... Agora sim! Mas preciso despedir-me! Chegou a hora pra mim. Tenho que voltar ao Parque! Lá ninguém me faz maldade, Não me chamam cão pulguento. Lá sou lobo de verdade! - Tudo bem! Diz a menina: Se tu gostas do teu lar, Então volta! Eu voltarei Para onde é meu lugar. Para perto da mamãe. Ali tenho proteção! Mesmo dormindo na rua Em cima de um papelão. - Não tenho lar pra morar! Diz Chapeuzinho, tristonha. - É triste ver uma menina Sem lar! É coisa medonha! Se eu possuísse uma casa Te ofereceria abrigo. Levaria vocês duas Para morarem comigo. - Obrigada, meu amigo! Sei que você é bondoso, Que tem um bom coração Mesmo não sendo formoso. Ainda se despediam, Despreocupadamente, Chegaram guardas do parque Agindo violentamente, Prendendo e levando o lobo Consigo, capturado. Não se sabe para onde O “Lobo Mau” foi levado. Chapeuzinho Azul só viu Que ele foi colocado Em cima de um caminhão, Numa jaula, acorrentado. Talvez nunca mais que visse O seu amigo outra vez! É assim, a vida é assim... Toda cheia de talvez. Então voltou Chapeuzinho Para a rua onde morava, Encontrou sua mãe bêbada Que com as pessoas falava. Pessoas da sua mente Que ela pensava real Porém só ela as via, Como sobrenatural. Chapeuzinho resolveu Fazer o que mais gostava, Ver a cor de cada carro Que pela rua passava. E ficava acompanhando Dos carros, seus coloridos, Até que o sono chegasse Dominando-lhe os sentidos. De repente aproximou-se Alguém... Era madrugada... Quem seria? O que fazia Pelas ruas?... nada, nada,... Rosa Regis
Natal/RN – setembro de 2017
Rosa Regis e Rosângela Trajano
Enviado por Rosa Regis em 02/02/2018
Alterado em 03/02/2018
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