A ROUPA NOVA DO IMPERADOR
Do livro:
CONTOS DE FADAS POLITICAMENTE CORRETO
De JAMES FINN GARNER
Tradução e adaptação de Cláudio Paiva.
Cordelizado por: ROSA REGIS
Ilustrado por: Danda
Há muitos e muitos anos,
Do outro lado do mundo,
Vivia um alfaiate
Cujo nome era Raimundo.
O alfaiate inquieto
Que vivia a viajar,
Num lugar desconhecido
Um dia ele foi parar.
Era um pequeno reinado
Cujo rei que o governava
Era bom, mas, vaidoso!
Todo mundo comentava.
E o alfaiate inquieto,
Que diverge dos padrões
Dos tranqüilos alfaiates,,
Já pensa com seus botões:
- Aqui eu vou dar-me bem!
Da vaidade do rei
Eu vou me aproveitar.
Para isso, a forma eu sei.
Do rei, por um seu vassalo,
Procura se aproximar:
Faz amizade com este
Para no palácio entrar.
Ao vassalo então induz
Que convença a realeza
Ser ele um grande alfaiate.
O melhor da redondeza.
E o que ele esperava
Logo, logo, aconteceu.
Dia seguinte o alfaiate
Um recado recebeu.
Era uma ordem do rei
Que o chama a comparecer
Ao palácio, com os tecidos,
Para uma roupa fazer.
Ele, que qualquer amostra
De nenhum tecido tem,
Maquina enganar o rei.
Isso ele faz muito bem!
Vai ao Palácio Real
Sem nada. Mãos abanando.
E, lá chegando, ao rei,
Mãos vazias, vai falando:
- Meu rei, o que tenho aqui,
É um tecido especial
Que só quem vê é pessoa
De mente fenomenal.
Tecidos maravilhosos
Que só quem tem o poder
De vê-los, pois, são os deuses,
E os de maior saber.
E o rei, que nada via,
Não querendo parecer
Que não era inteligente,
Fingiu que estava a ver.
Encomendou a roupagem
Ao grande mentiroso
Que saiu dali sorrindo,
Se achando vitorioso.
E alguns dias depois
Ao reino ele retornou.
Nada nas mãos vem trazendo.
Porém ao rei afirmou:
- Eis aqui, meu bom monarca,
A roupa da encomenda!
A fiz com zelo e capricho!
Ficou que é mesmo uma prenda!
O monarca envergonhado
Por nada ver, duvidando
De si mesmo, ao seu vassalo
Dirige-se comentando:
- Amanhã desfilarei
Pelas ruas da cidade
Ao povo será mostrada
A roupa da majestade.
Com o alfaiate ajudando,
A roupa experimentou.
O vassalo ao vê-lo nu
Sorrindo, o rosto virou.
Porém logo dominou
O sorriso. Pois sabia
Que se dissesse o que viu
O monarca o puniria.
Além do mais o vassalo
Não queria ser chamado
De idiota ao dizer
Ter visto o seu rei pelado.
Pois o alfaiate afirmara,
Ouvira, veementemente,
Que só veria a tal roupa
Quem fosse inteligente.
A Corte fora avisada:
- O Monarca desfilará
Com a sua nova roupa!
Só quem for sábio a verá!
- E aquele que for parco
Da inteligência, afinal,
Não verá a nova roupa
Que é mesmo colossal.
No dia e hora aprazada
Todo o povo do reinado
Tomou as ruas esperando
O desfile anunciado.
Soam trombetas!!... É hora
Da nobre apresentação!
O rei surge! Boquiaberta,
Deixando a população.
Está totalmente nu!
E sem demonstrar vergonha,
Mostrando o corpo banhudo.
É uma visão medonha.
Ele vê que está nu
Mas não o pode afirmar,
Tal qual a população.
Pra não se menosprezar.
Já que só que vê a roupa
É quem é inteligente,
Nem o rei e nem o povo
Aceita a verdade. Mente.
Mas, eis que uma criança,
No meio da multidão,
Grita: - O rei está nu!
E esconde o riso com a mão.
É interrompido o desfile.
O imperador parou.
De repente um esperto
No meio do povo, falou:
Não! O rei não está nu!
Está somente adotando
“Nova opção de vida”
E a nós todos mostrando.
O povo soltou um viiiiva!!
A roupa toda tirou
E, dançando alegremente,
Ao rei nu, acompanhou.
Nus o povo e o monarca,
Dançavam ao sol. Que beleza!
Sem vergonha, sem pudor,
Como manda a Natureza.
Daquele dia em diante
Tornou-se opcional
A roupa naquele reino.
Andar nu era legal.
O alfaiate malandro
Que ao rei quis enganar,
Perdendo o seu ganha-pão
Foi-se daquele lugar.
Empacotou as idéias
Com agulhas e dedais,
E foi-se sem dar adeus
Pra não voltar nunca mais.
FIM
Natal/RN – 06/10/2008 – no consultório médico.