BORRÃOZINHO AMIGO
Um olhar enviesado
Atingiu a minha mão
Onde eu trazia, amassado,
Um pequenino borrão.
Estando de bem com a vida,
Andando descontraída
Sem a ninguém me ligar;
Porém trazendo na mão
Um pequenino borrão...
Para o que vejo, anotar.
Uma turminha, em maloca
Numa tremenda fofoca...
E um velho que quer ser boy!
Uma coroa fagueira,
Andando muito faceira...
Feiiinha... que chega dói!
As duas vêm conversando
Baixinho... confabulando...
- Menina!... Você não viu?!...
Uma, de óculos escuros,
Magrinha, pisando duro.
E a outra veste o “PIU-PIU”.
A “bixinha” na parada
do ônibus, “desmantelada”,
Desmunheca pra valer!
Com o cabelo amarelo,
Se achando muito belo,
Rebola “pras nêgas vê”!
Uma senhora com pão
Em uma das suas mãos,
E, na outra, leva leite.
E lá vem... dois caras encardidos,
Magrinhos, desmilingüidos,
Que “não vai nem com azeite”!
Defronte a borracharia
Me benzo... Ave Maria!...
Essa gente é um perigo!
Fala de Deus e o mundo.
E se parar um segundo
É só pra coçar o ouvido.
Outra parada de ônibus!...
Quase que levei um tombo
Com a mudança do olhar.
Vejo apenas um rapaz
“rrumadinho” demais...
E cansado de esperar.
Oh! Lá vem uma mocinha,
Uma graça!... “arrumadinha”!
Dentro da medida certa.
Queixo alto... orgulhosa!
Os caras falam: - gostosa!
Babando... de boca aberta.
Já estou em casa agora.
Se me embaralha a memória
Já nem consigo pensar!
Lembro o olhar "atravessado",
Ou seria “enviesado”?!...
Que me insuflou a rimar.
E termino agradecendo,
de todo o meu coração,
Ao olhar enviesado
que atingiu a minha mão
Onde eu trazia amassado
O pequenino borrão.
Rosa Ramos Regis
Natal/RN-29/03/1999