Sem noção de amor fraterno// O homem agride o irmão,// Num ato que mostra o inferno// Que traz no seu coração.
Rosa Regis Brincando com os Versos
Pensares que se transformam //espalhando poesia, //pegam carona no vento// enchem meu ser de alegria
Textos
O MITO DE DÉDALO E ÍCARO

Trabalho de final de semestre,
valendo para avaliação - UFRN - 2004.2
Disciplina: Hist. da Mitologia Grega.

O Exílio de Dédalo

Desde sempre o homem teve
uma grande vontade em si
a de voar como os pássaros
para o Céu atingir

Mas isso foi sempre sonho
pois que, na realidade,
por mais que ele deseje
não há possibilidade.

No entanto, a Mitologia
nos conta de um homem que
acreditou no seu sonho
fazendo-o acontecer:

Foi com um ateniense
que descende de Erecteu:
um artista e artesão,
que o fato aconteceu.

E não só ele voou
mas, com ele, mais alguém:
o seu filho Ícaro, que
com ele voou também.

Conta-se que as estátuas
que ele fazia ficavam
tão perfeitas que com vida
parecia que estavam.

Mas era mais conhecido
como o arquiteto/inventor
que a Cidade de Atenas,
ainda mais bela tornou.
 
E o compasso geométrico,
a broca e o machado, são
descobertas importantes
de Dédalo. Sua criação.

E os modelos de velas
de navios também são
criações dele, na época.
Grande importância terão.

Os atenienses que
suas obras admiravam,
diziam que era Atená,
a deusa, quem ensinava.

Porém outros que o talento
do arquiteto invejavam,
buscavam fazer-lhe mal
já que dele não gostavam.

O filho da irmã Perdix,
Talos, o seu assistente,
admira o seu trabalho
e o reproduz habilmente.

E as mandíbulas afiadas
de uma serpente lhe dá
a idéia de uma serra
que ele irá inventar:

Uma lâmina de metal
desgasta, criando dentes
que cortam muito mais rápido
que as mandíbulas da serpente.

E aí o tio, orgulhoso,
à sua irmã mostrou
o que o sobrinho fizera
e que muito o orgulhou.

Pérdix, rindo, ao irmão,
brincando, tenta alertá-lo
dizendo: Talos, um dia,
poderá ultrapassá-lo!

Ele diz: - É o que espero!
Com isso vivo sonhando.
Porém contra o seu desejo
o destino ia tramando

Pois a sorte para Talos
já tinha sido traçada:
não tendo direito a fama
pelo seu tio augurada.

E, da ponta de um rochedo
onde está a observar
ao longe a planície d’Ática
com o tio, Talos cairá.

Dédalo tentou segurá-lo
mas o pior ocorreu:
não conseguiu. E o sobrinho,
infelizmente, morreu.

Os inimigos de Dédalo,
seu azar aproveitando,
de ter matado o sobrinho
lhe foram logo acusando.

Levaram-no ao Tribunal
como queriam, acusado
de, por inveja ao sobrinho,
do alto tê-lo empurrado

Porém, sabe-se, eram eles
que a Dédalo invejavam
e temiam-lhe o poder
que os seus saberes lhe davam.

O achavam poderoso!
Sendo assim, por precaução,
aos amigos influentes
pedem a maior punição:

Aos juizes seus amigos
para Dédalo, sem pudor,
pedem a pena de morte
que aos amigos causa horror!

Não conseguiram. Porém
o grande artista será
banido da sua Terra
para onde jamais voltará.

-
Foi um golpe atrás do outro
que o pobre Dédalo sofreu:
sendo banido da Terra
em que nasceu e cresceu

logo depois que ao sobrinho,
a quem sempre prometeu
passar-lhe todo o saber
que tinha, ele perdeu.

Duplamente amargurado,
ele embarcou no Pireu,
e de perguntar o rumo
do Navio ele esqueceu.

Só a meio caminho andado
é que ficou sabedor
qual rumo o navio seguia.
Quando saiu do torpor.

...........
E aí, na Ilha de Cíclades,
ao leste, o navio parou:
em Delos, Naxo e Tera,
depois para o Sul rumou:
até Creta, a grande ilha
onde Dédalo se exilou.

 

Dédalo e Ícaro em Creta

Naquele tempo, era Minos,
o cruel filho de Zeus
e de Europa, o governante
de Creta onde o errante
Dédalo se estabeleceu
...
Na plenitude da glória,
com uma frota descomunal
e inumeráveis riquezas
reunidas, com certeza,
em Cnossos – a Capital.

O luxo transparecia
nos palácios erigidos.
E os templos deslumbravam
a todos que ali chegavam,
deixando-os embevecidos.

Minos, o que mais queria
era a todos deslumbrar!
De forma que quem chegasse
em Cnosso, se abismasse
com a beleza do lugar,

faz uma visita a Atenas
e, aí, vê que enganou-se.
E o orgulho em ostentar
a beleza do seu lugar,
em Minos, evaporou-se!

Pois os templos; as estátuas;
a arte em primazia;
compreendeu: seu tesouro,
seu dinheiro, todo o ouro
do mundo não lhe daria.

Para trabalhos tão belos
teria que ter, então,
a técnica e a habilidade
de um artista de verdade
para guiar-lhe a mão.

E assim, durante o tempo
em que em Atenas ficou,
sempre que o impressionava
uma obra, perguntava
quem seria o seu autor?!


E a resposta sempre a mesma:
É de Dédalo, meu Senhor!


.........
Foi assim que Minos soube
quem era o grande inventor,
o inigualável artesão
de que o Mundo até então
se fizera conhecedor.

E voltando à sua terra,
o rei, que antes se achava
o mais rico e poderoso,
vem bastante pesaroso!
Pois Atenas, invejava.

Embora nadasse em ouro
Cnossos lhe parecia
medíocre e pobre agora!
E o temido Minos chora
por não ter o que queria.

- Oh, se eu tivesse um Dédalo!!
- Nada mais desejaria!
Repetia pra si mesmo:
sentado ou andando a esmo,
hora a hora, dia a dia.

Certo dia, estando Minos
no trono d’ouro sentado
com o pensamento distante,
um cortesão, exultante,
chega deixando-o assustado.

E como é de costume,
saúda o rei em adulação,
dizendo-lhe que trazia
uma notícia que iria
alegrar-lhe o coração.

Porém o rei lhe retruca,
tristonho, desanimado:
- As notícias que me vêm
ultimamente não têm
da tristeza me afastado.

- Mas agora é diferente!
o cortesão lhe afirmava.
- Estou certo de que você
acaba, enfim, de obter
algo que mais desejava.

- Dédalo está em Creta!
Quer trabalhar com você.
E Minos, de pé num salto,
repete o que ouve alto,
mal podendo se conter.

- Vou dar-lhe as boas vindas
pessoalmente!! ele grita.
E com honrarias reais
recebe Dédalo. Ademais,
à Cidade toda agita.

E põe à disposição
do artista tudo o que
este afirmou precisar
p’ra começar trabalhar,
e o seu desejo fazer.

E o desejo de Minos
era o de embelezar
Creta o mais rapidamente!
Dédalo, incrivelmente!
o seu desejo fará.

Cnossos, a capital
de Creta, agora teria
os mais belos edifícios
que sem quaisquer sacrifícios,
o grande artista faria.

E também obras de arte
que a Dédalo dariam
os elogios de Minos,
pois eram “feitos divinos”!
que elogios mereciam.



Dédalo casa-se – nasce Ícaro

E muitos anos viveu
trabalhando Dédalo ainda
em Creta onde se casou
com Cíclades, uma moça linda
que lhe deu um filho: Ícaro.
Mas, muito jovem se finda.

Órfão nos primeiros anos
de vida, Ícaro aprendeu
 amar a arquitetura,
saber que seu pai lhe deu.
À pintura e à escultura
ele o mesmo amor rendeu.

A sua grande ambição
era, do seu pai, herdar
o talento que tornara
Dédalo tão popular
a ponto do rei de Creta
o estar sempre a elogiar.

E entrando na idade adulta,
com Dédalo, construirá
em Creta, o LABIRINTO
que ao Minotauro irá
servir de confinamento.
e do qual jamais sairá.

O tal Minotauro era
um monstro devorador
de homens. Com corpo humano,
e cabeça?! Sim senhor!
de touro! Ao qual Teseu,
herói de Atenas, matou.

O rei, ao ficar sabendo
que Dédalo ajudou Teseu
na caça ao Minotauro,
salvando o povo, lhe deu
uma raiva incontrolável!
E vingar-se prometeu.

É que: há muito tempo Minos
daquele povo cobrava
um tributo todo ano,
e este, triste, lhe pagava:
catorze jovens*, que o monstro,
sem compaixão, devorava.

E, ao ficar sabedor
que Dédalo havia ajudado
a Teseu, o rei perverso
esquece todo o passado,
prende o artista e seu filho,
mostrando o quanto é malvado.

E no escuro da noite,
pai e filho são jogados
no Labirinto, que fora
por dédalo elaborado.
- E agora, como sair?!
Diz Dédalo. Desesperado!

- A escravidão é difícil,
em si, de ser suportada!
Mas para um artista é pior!
E com a alma amargurada,
se pergunta como irá
sair daquela enrascada.

- Como conseguir fugir,
e alcançar a liberdade?!
O seu filho lhe responde
que: só quem são de verdade
livres mesmo, são os pássaros!
É essa a realidade.

- Se voássemos como eles
poderíamos escapar
mas infelizmente os deuses
não nos quiseram alar!
- No entanto nos deram cérebro!
Diz Dédalo a pensar.

Ícaro, em solislóquio
ou a si memo falando:
- Oh, quanto seria bom
o poder sair voando...
estar lá perto das nuvens,
com os pássaros, viajando!
-
- E não somente com os pássaros
mas... com nuvens e com deuses,
o espaço disputando!


A ousadia de Dédalo

E, aí, Dédalo já estava
com o pensamento voltado
para a idéia que lhe surgira.
Deixando o filho de lado,
fixamente ele olhava
o Céu, e já maquinava
algo de louco e ousado.

...
Persífae, esposa de Minos,
que não tem a crueldade
do marido, com freqüência,
faz, aos dois, a caridade
de uma visita amiga
que alivia a fadiga
causada pela maldade.

Estando ainda absorto
quando Persífae chegou,
Dédalo saiu do seu “sonho”
e logo desabafou:
falando da escravidão
que atava as suas mãos!
O que lhe causava dor.

E a rainha lhe diz:
- Eu nada posso fazer!
- Se eu os tirar daqui,
Minos os mandará prender
outra vez. Porém lhe diz
algo que o fará feliz
e nova esperança ter.

- Chegaram novas de Atenas
que o deixará animado:
o seu amigo Teseu,
como rei foi coroado!
Achando que fora um erro,
De Dédalo, seu desterro,
Teseu o fez revogado.

- Finalmente!! Grita Dédalo.
Vendo-se livre afinal.
- Agora eu posso voltar
à minha Terra Natal!
- Ainda não é agora,
Lhe disse a rainha... a hora
da liberdade total.

- Minos, ao saber que Atenas
esperava o seu regresso,
diz Pasífae, ficou louco
de raiva. Ficou possesso!
E toda a Greta cercou
com guardas, com o temor
de vê-lo livre. Liberto.

- E temendo a sua fuga,
até mesmo o litoral
ele mandou vigiar.
E nas portas, de forma tal,
o rigor da vigilância
é tanto, que a esperança
de fuga morre, afinal.

- Ainda quero ajudá-lo,
mas não sei como! Ela diz.
- Traga-nos penas – diz Dédalo.
não importando o matiz
das mesmas, podendo ser
de cisne, águia... e até
de cegonha e abutre. Diz.

- Como você tem certeza
que isto vai funcionar?
Pergunta-lhe a rainha.
E Dédalo a resposta dá!
- Traga-nos penas, lhe peço!
E deixe comigo o resto
se quiser mesmo ajudar!

A rainha impressionada
com a determinação
dele, decide ajudá-lo!
Pois, já que, se havia, então,
alguém capaz de tentar
fazer asas p’ra voar,
seria ele. Outro, não.

E no outro dia, Pasífae
já começou a mandar
supri-los com o que pedira
Dédalo, mas, devagar:
aos poucos, para poder
ocultá-las. Assim é que
Dédalo passa a trabalhar.

E mãos à obra ele põe.
Tendo grande habilidade
e arte, ligava as penas
com cera e, na verdade,
era um trabalho penoso,
delicado, mas gostoso
por sua finalidade.

Exigia paciência
e tempo. Mas, afinal,
era a única saída
daquela vida infernal
onde ele e o filho se viam
presos, e precisariam
superarem-se, para tal.


As asas ficam prontas.
E são perfeitas.


São quatro, sem diferença
das dos pássaros no formato,
porém bem grandes, e o peso,
por certo, multiplicado.
Porque mesmo o homem tendo
pouco peso, finda sendo
que o pássaro, bem mais pesado.

...

Eram tão bem feitas as asas
que até os deuses do Olimpo
as teriam invejado.



O VÔO DE FUGA

Chega a hora de fugir

Usando duas correias de couro,
Dédalo um par de asas prendeu
nos braços e ombros de Ícaro,
fazendo isso mesmo nos seus.
E, testando, balançam os braços
os dois, p’ra cima e p’ra baixo,
quando o teste final ocorreu.

Tudo pronto p’ra fuga! E Dédalo
fita o filho, Ícaro, a dizer
para ele que a viagem é difícil
e que o caminho que irão percorrer
é um longo caminho! E o cuidado
que terão terá que ser dobrado
para um bom resultado obter.

- Não podemos voar muito baixo
pois as penas seriam molhadas
pelas ondas do mar, que fariam
com que as mesmas ficassem pesadas.
E, tampouco, voar alto seria
aconselhável pois derreteria
a cera que deixa as penas coladas.

- Devemos, pois, viajar devagar:
em velocidade e altura constantes
como as cegonhas, para que possamos
ter mais segurança e ir mais distante.



Dédalo é precavido

Ícaro é jovem! E está ansioso,
querendo saber quando chegarão
em Atenas, e, ao pai, curioso,
inquire do tempo que eles gastarão.
Porém o seu pai, que é cauteloso,
respondeu ao filho: - Eu acho que não
devemos ir p’ra lá! Minos, furioso,
poderá atacá-la só por punição.

- Se Atenas acolhe a nós dois, irá
tornar-se inimiga desse rei algoz
que, sem compaixão, a irá atacar.
E, assim, será preciso que nós,
se possível, busquemos o pior evitar
para que depois não ouçamos a voz
da nossa consciência a nos acusar
de culpados por algo terrível e atroz.

........
- Eu o seguirei! Diz Ícaro ao pai.
Iremos para onde você decidir!
- É assim que se diz. - É assim que se faz.
- O momento é chegado, devemos seguir.
Um momento em que os homens jamais
poderão esquecer! E dizendo, a sorrir:
- Siga-me. E lembre-se do que lhe falei:
Para tal ousadia, o cuidado é lei.

E eleva-se ao Céu, sempre a balançar
suas grandes asas que, com maestria,
passou tantos dias a confeccionar
e que, agora, no ar, lhe traz a alegria!
A ele e a Ícaro que, com ele, estará,
dali a algum tempo, curtindo a euforia
de, em liberdade, poderem-se ver
após tanto tempo de imenso sofrer.


Enfim, livres!

Logo estão em liberdade!
Sobrevoando, afinal,
o palácio do rei Minos
com todo o seu cabedal,
que, ao vê-los, grita, exclamando:
- Eu nunca vi nada igual!!
- Pasífae! Eu estou sonhando?!...
ou são dois deuses voando
no Céu? Que fenomenal!

- Deuses mesmo! Respondeu
Pasífae, e, em seguida,
virou-se para o outro lado
p’ra passar despercebida
a emoção de que estava
no momento possuída.
Pois nada se igualava
ao que agora passava...
Pensava abstraída.

Voando tranqüilamente,
mantendo a velocidade,
vão pai e filho, contentes!
Vêem a primeira cidade:
uma Ilha em meia lua:
Era Tera, na verdade!
ou o que dela sobrara
depois que o vulcão queimara
seu centro – mais que metade.

Os dois seguem para o Norte,
em vôo, onde verão
a Ilha de Dionísio:
Naxos. E depois irão
ver Delos e o grande templo
de Apolo. Seguindo, então,
sobre um imenso mar aberto
que eles vêem de perto,
a pulsar-lhes o coração.


A inconseqüência de Ícaro
causa-lhe a morte


Ícaro está radiante
com suas asas! E assim,
segue o rumo. Mas, diante
do Universo sem fim...
livre... inconseqüentemente
e sem malícia, um querubim!
faz brincadeiras: descendo
e subindo, esquecendo
do quanto isso é ruim.

Ruim para suas asas,
que ele já esquecera
como o seu pai as fizera,
pois emendou-as com cera.
E ainda o advertira
para não fazer besteira:
aconselhando-o a manter
o vôo estável, p’ra que
permanecessem inteiras.

Porém Ícaro, deslumbrado
com o que via pela frente
e confiante demais,
não ouviu, lamentavelmente,
os conselhos do seu pai.
E, assim, infelizmente,
como Faeton, destinado
a um triste fim, o coitado
se entrega inconsciente.

.......

Assim tem sido e será.
A sorte ninguém engana.
Contudo, a humanidade
precisa ser mais insana:
deixar que seus jovens ajam
com ousadia, com gana.
O jovem precisa ser
bem mais ousados do que
o velho, que só reclama.

-
E Ícaro era ousado.
Quanto mais alto subia,
mais exultante ficava!
Pois o Sol lhe atraía
como um ímã, e o conselho
do seu pai, ele esquecia.
E quando Dédalo voltou
a cabeça e o procurou,
ele já não o seguia.

Em pânico, o pai esquadrinha
o Céu, olhando ao redor
e para cima, e o que vê
tão só causa-lhe horror:
Ícaro é um pequeno ponto.
Desesperado, gritou:
- Ícaro! Ícaro, volte!
Porém cumpriu-se-lhe a sorte:
Ícaro não o escutou.

E o que Dédalo temia,
em pouco tempo ocorreu:
O Sol esquentou-lhe as asas
e a cera derreteu.
E as penas se espalhando,
a triste certeza deu
ao pai que, ao filho amado,
corajoso e arrojado,
sua ousadia venceu.

Ainda tentou pegá-lo
quando ele, desesperado,
descia, batendo as asas
mas, como uma pedra, pesado,
o seu esforço foi vão.
Ícaro passou ao seu lado,
e nos braços líquidos do mar
ele, enfim, vai encontrar
o seu fim inesperado.
-

E usando as asas, Dédalo,
o corpo do filho leva
até a ilha mais próxima
e, lá chegando, o enterra.


.......
E a partir dali, a Ilha
de Icária foi chamada.
Ícário, chamou-se o mar
que a deixa circundada.
E em todo o mundo é lembrado
sempre o seu nome, e louvado,
quando quer-se homenagear
àqueles que deram a vida
em uma luta renhida
para o seu sonho alcançar.

E Dédalo, profundamente
abalado, só deseja
afastar-se p’ra bem longe
de tudo que lhe enseja
a lembrança dolorida
pela perda por si sofrida,
e, assim, ele voou
para a Sicília. E ali,
tentaria, então, carpir,
finalmente, a sua dor.

E logo que aterriza,
o que primeiro ele faz
é destruir suas asas,
que tristes lembranças traz.
E, em troca de proteção,
logo depois ele, então,
seus serviços oferece
ao rei Cócalo, que consente.
Aceita imediatamente.
E ali ele permanece.

É com grande satisfação
que o rei Cócalo o recebe!
E projeto importantes
às suas mãos deixa entregue.
E segundo o que alguns falaram,
pelas suas mãos passaram
as Muralhas poderosas
de Acagras que, famosas,
também famoso o deixaram.


Minos procura Dédalo

Minos não ficara parado,
de braços cruzados!...
quando Dédalo fugira.
E bem assessorado
por bravos soldados,
logo ele partira.

Com uma frota que
esbanja poder
ele, ao mestre artesão,
espera encontrar,
e à Creta voltar
com ele nas mãos.

E sabendo que, do mestre,
onde quer que estivesse,
por ser muito querido
ninguém lhe daria
notícia, ou faria
algo nesse sentido

Minos, que é manhoso
e muito cauteloso,
um engenhoso ardil
emprega, e obtém
o que lhe convém,
por se mau – por ser vil.

Não revela a ninguém
o que em mente tem;
o que ele procura;
mas consigo carrega
algo que ele emprega
na sua loucura.

Loucura ou maldade!
Pois que, na verdade,
não é nada bom!
E ele leva consigo
um presente do amigo
Deus do mar, Trinton:

uma concha que tinha
poderes que vinha
de quem a doou:
de Triton, deus marinho
que, parece, ao El-Niño
foi quem inventou

Pois sendo soprada
na parte delgada,
no pequeno orifício:
temporais e ventos
se tinha em momentos,
pondo vidas em risco.

E onde ia passando
Minos, sempre mostrando
a concha, inquiria
se alguém, de tentar
bom dinheiro ganhar,
enfim, gostaria.

E a sua proposta
não tinha resposta
pois ninguém conseguia
fazer um fio entrar
pela boca e passar
até a outra via

Pois, em aspiral,
a concha é, afinal,
no seu interior.
E Minos bem sabia:
ninguém conseguiria!
Como ele pensou.

.........
E Minos andou todo o mundo
sem nunca encontrar ninguém
capaz de passar o fio.
E, de volta, à Sicília vem
desafiar o rei Cócalo,
que leva a tarefa à quem?!

A Dédalo, o hábil inventor,
de quem o Saber provém!
E este, enfim, encontrou
a solução que ninguém
antes havia encontrado.
Mas isso não lhe convém.

Untou com mel a fissura
estreita da concha, e pôs
do lado da abertura
uma formiga, que foi
presa à perna por uma linha
fininha. E solta depois.

Atraída pelo doce
cheiro do mel, a bichinha
atravessa a aspiral,
trazendo consigo a linha,
e chega ao pequeno furo
como o rei em mente tinha.

Cócalo muito orgulhoso,
ao rei Minos voltou
com a concha trespassada
que, alegremente, mostrou
ao rei mau que, vendo aquilo,
logo em Dédalo pensou.

No mesmo momento, soube
quem conseguira fazer
um trabalho como aquele,
pois que do seu conhecer
só um homem era capaz:
Dédalo! Só podia ser!

- Isto é obra de Dédalo!
Exultante, ele exclamou.
- Traga-o imediatamente!
Cócalo titubeou,
porém da ira de Minos,
temeroso ele ficou.

Não tinha a menor vontade
de o entregar ao desumano
cretense, porém teria
que levar em conta os danos
que ao seu reino causaria
a ira do rei tirano.

Prometendo entregar Dédalo,
convida-o a desfrutar
da sua hospitalidade
enquanto tenta acalmar
o povo que, indignado,
Dédalo não querem entregar.

É que, na ilha, ninguém
tinha a menor intenção
de deixar que o mestre caísse
no poder de um ser mal-são
como era o rei de Creta:
um ser vil – sem coração.



O inglório final do rei Minos

- Preferimos lutar a trair um homem
que procurou a nossa proteção
e fez coisas tão belas para nós!
Gritava o povo com indignação.
E Cócalo, vendo o estado de ânimo
do seu povo decide entrar em ação

...
E aos conselheiros mais próximos
convoca para tentarem,
de uma forma conjunta,
um meio p’ra se livrarem
do rei Minos, e diz: enquanto
não encontrarem, não parem!

E preparam, afinal,
um banho letal
para a Minos matar:
É um banho bem quente
de água fervente
que o escaldará.

E assim, na certa
o ataque de Creta
se evitará!
alegando acidente
d’onde o rei temente
não escapará.

É o fim sem glória
que fica na história!
Porém, Minos será,
lá no Hades, juiz.
Foi Zeus quem o quis!
E nada impedirá.

Injustiça e maldade
com a humanidade
ele praticou.
Porém, na verdade,
ele era deidade!
De Zeus se gerou.

E os humanos têm,
por mal ou por bem,
enfim, que aprender
que à vontade dos deuses,
mil e uma vezes,
irão aceder

-
não importando que seja
injusta ou não seja,
pois essa peleja a Zeus vai caber.

Atenas recebe, enfim,
Dédalo de volta

Dédalo voltou à Atenas,
finalmente, onde passou
os últimos dias de vida
e aos jovens ensinou,
trabalhando, a verdadeira
arte que ele tanto amou.

E já no final da vida,
uma escola ele fundou
a qual recebeu seu nome,
e muito tempo durou:
centenas de anos. Grandes
artistas ela formou.

-
E os artistas que ali formaram-se,
que foram muitos, chamaram-se:
Dedálides. O que os honrou.

.......

Assim, acaba a história,
ou o Mito do homem que
sonhou um dia ser pássaro
e que sentiu o prazer
de voar por algum tempo
ainda que um triste evento
lhe causasse padecer.

Contei O Mito de Dédalo
e de Ícaro. Ou recontei,
melhor dizendo, já que
seu formato transformei!
Pois o que foi lido em prosa,
agora, eu: Dona Rosa,
em pobres versos tornei.

E peço ao caro leitor
que leia com atenção,
criticando com justiça;
dando sua opinião
no trabalho para que
eu possa o mesmo revê
e fazer-lhe a correção.

-

Mas se gostou, que o diga!
Afague-me o coração.
Rosa Regis
Enviado por Rosa Regis em 12/05/2006
Alterado em 04/06/2023
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