DISCURSO DE FORMATURA (Filosofia-Bacharelado - UFRN)
DISCURSO DOS FORMANDOS DE FILOSOFIA
(Bacharelado) - UFRN/RN - 2004.2
Por: Rosa Ramos Regis da Silva
Natal/RN – fevereiro de 2005
Normalmente, os discursos dos oradores de turma nas solenidades de formatura, começam dizendo que se trata de uma noite especial. Que a colação de grau é a realização de um sonho, o coroamento de uma luta de vários anos e que representa a vitória, não só daqueles que estão se graduando, mas de toda uma estrutura social formada por familiares, amigos, companheiros, professores, colegas, etc, etc. E isso é a mais pura verdade.
Esta nossa noite também não é diferente. Nós que aqui estamos para receber o diploma de licenciado ou de bacharelado em Filosofia, também nos sentimos vitoriosos e desejosos de agradecer a todos que nos ajudaram, de uma forma ou de outra, a chegarmos até aqui. Esta nossa noite é, portanto, uma noite de agradecimentos, de alegria e de comemorações. Em nome da turma queremos agradecer a todos que conosco participaram dessa luta, e compartilhar com eles as alegrias dessa vitória.
Entretanto, fugindo um pouco ao rotineiro e procurando fazer com que ninguém acabe vencido pelo sono, tentarei ser diferente. Nesses poucos minutos que nos são destinados a dizer algumas palavras àqueles que nos deram o prazer da presença, procurarei, da melhor forma possível, agradecer a todos que nos ajudaram lançando, em seguida, uma questão bem atual. O que será feito de forma não usual.
AGRADECIMENTOS
A Turma CLÁUDIO FERREIRA
COSTA vem agradecer
A todos que estão presentes
E a todos aqueles que,
Mesmo só por pensamento,
Nos deram força e alento
Para as barreiras vencer.
Aos nossos pais, aos amigos;
Aos esposos e aos irmãos;
Às esposas e aos filhos
Que, com certeza, estão
Conosco, aqui presentes,
Com um sorriso cheio de dentes,
Nesta bela concentração.
Aos professores que foram
Por nós homenageados
E também aos esquecidos
De, na placa, serem lembrados.
Aos que pertencem a outras áreas
E àqueles contratados
Para substituírem
Os que estão afastados.
Aos nossos queridos Mestres
Do “Saber pelo Saber”
Que dão verdadeiras aulas
Mostrando, nisso, prazer
E tentando nos impingir
A vontade de evoluir
E o desejo de conhecer.
AO PARANINFO DA TURMA:
PROFESSOR DOUTOR MARKUS FIGUEIRA DA SILVA
Ao paraninfo da turma
Nosso grande Professor:
O Doutor Markus Figueira,
Que tão bem nos demonstrou
Um vasto conhecimento
Além do grande talento
Para a música. Ele é cantor.
Markus nos fez conhecer
De uma forma especial
Pois nunca impôs seu saber
Como um produto final,
Nos levando a desejar
Ao Saber em si, acessar.
O que é nosso ideal.
E grande conhecedor
Da Antiga Filosofia,
Ele nos falou do Amor,
Da Verdade, da Sophya,
Do bem, do mal, da tristeza,
Do prazer e da beleza,
Da paz, da dor, da alegria.
Nos indicou o caminho
Do “Saber pelo Saber”,
O qual alguns já percorrem
Tão somente por prazer,
Mas que outros, certamente,
Sem ter quem os oriente,
Não terão esse prazer.
E representando a turma,
E roxa de encabulação,
Agradeço ao Professor Markus,
Que não nos deixou na mão
Ao convite aceitar
Para nos paraninfar.
- Obrigada, fessôzão!
AO PROFESSOR:
JOSÉ RAMOS COELHO
Ao querido Professor Ramos
Que, ao som do violão,
No finalzinho da aula
Faz que o nosso coração
Fique calmo, aliviado,
Batendo bem compassado:
Em paz, com moderação.
E faz que o nosso pensar
Voe livre, sem tristeza,
Pois no seu desenrolar,
Sua aula, com certeza,
Faz que o aluno relaxe,
E, relaxando, se ache
Um só com a Natureza.
AO PROFESSOR DOUTOR:
JUAN ADOLFO BANACCINI
Ao Dr. Juan Bonaccini
Agradeço o mastigar,
Por vezes, o mesmo ponto
Para, como eu, quem está
Apenas engatinhando,
À mente “lerda” instigando
Ao exercício do pensar.
À PROFESSORA DOUTORA:
MARIA DA PAZ NUNES MEDEIROS
À Professora Dapaz,
De quem todos os formandos
Falam com muito carinho,
Às vezes até comentando
Que, como seu nome diz:
Ela “é da paz”! E feliz
De quem for seu orientando.
À PROFESSORA DOUTORA:
MONALISA CARRILHO DE MACEDO
Da Doutora Monalisa,
Tudo que eu puder dizer
Ainda será bem pouco,
No meu modo de entender,
Para mostrar, na verdade,
O seu grau de simplicidade
E também o do seu saber.
AO PROFESSOR DOUTOR:
OSCAR FEDERICO BAUCHWITZ
Ao Doutor Oscar Federico
Que nos levou a pensar,
Juntamente com os místicos,
Que, para ao SER acessar
Teremos que nada ser!
Enfim, teremos que ser
NADA. Nos nadificar.
Que fala da Divinitude
E do Ser Essencial,
Do Dasein...
Da Omnipresença
E do Destino fatal
Que o homem, sem pedir,
Terá. Seja bom ou mau.
Fala do aquietar-se,
Em plena contemplação
Ao Ser Maior, ao Divino,
Sem fazer qualquer ação,
Deixando-se conduzir,
Sem desejar nem pedir
Nada p’ra outrem ou p’ra si.
Livre de qualquer paixão.
AO PROFESSOR:
SÉRGIO EDUARDO LIMA DA SILVA
Ao caro Professor Sérgio
Que a sala movimenta
Com discussões que agradam
E quem vai passando, entra
Para assistir-lhe a arte
Com que instiga ao debate.
É só o que se comenta.
Feitos os agradecimentos,
Que foram de coração
Embora sem muito enfeite,
Passo a falar da questão
Que acima foi ventilada
Porém não foi comentada.
E aqui vai, de sopetão.
HOJE EM DIA
PRECISAMOS, NÓS, DA FILOSOFIA?
É uma questão difícil
Que pode preocupar
Aos nossos queridos mestres.
E, ao menos vamos tentar
Ver se podemos, então,
À alguma conclusão
Nós, pobres mortais, chegar.
À primeira vista, a questão
Não interessa à maioria,
Pois num mundo globalizado
Em que se vive hoje em dia,
Com o “on line” a dominar,
Não há tempo p’ra pensar.
É uma eterna agonia.
As questões que são lançadas
Têm décimos de segundo
Para serem analisadas,
Pois nós vivemos num mundo
Onde quem corre é quem ganha,
Não há tempo p’ra barganha
Nem para um pensar profundo.
E o homem contemporâneo,
Numa vida vertiginosa,
Nos torna massa humana
Nesse correr, desejosa
De mais tempo p’ra viver.
E, onde o tempo p’ro Saber,
Se de mais tempo não goza?
---
E, afinal, como fica
A questão que se inicia:
“O homem contemporâneo
precisa de Filosofia?”
E haverá hoje em dia
lugar p’ra Filosofar?
E em tão grande correria
como parar p’ra pensar?
-
Porém é claro que nós
Com a nossa pretensão
De aprendizes de filósofos
Jamais diríamos não,
E sim um sonoro SIM
A esse tipo de questão.
Mas, para que convençamos
Uma boa maioria
Das pessoas que nos ouvem,
Temos que, com galhardia
Dizer/saber o que, em si,
Oferece a Filosofia.
E dizer qual o papel
Que ela ainda poderia,
Depois de vinte e seis séculos,
Representar hoje em dia
Para o homem-máquina, inumano,
Que tornou-se um ser insano
Em eterna correria.
Essas e outras questões
Terão que ser respondidas.
Mas, quem disse que terão?
Pois as questões respondidas,
Em si, questões já não são.
E o Essencial é simples
Sem qualquer complicação.
Pode parecer que a Filosofia é coisa para poucos, é algo muito sofisticado, ocupação de uma elite ociosa e culta. Porém, ao contrário do que normalmente se pensa, a Filosofia se preocupa em compreender coisas absolutamente essenciais ao ser humano.
Pois, para nós, não seria
Essencial compreender
O que vem a ser a Ética,
A amizade, o prazer?
A verdade, o ódio, o mal
O bem, a felicidade
A justiça, a injustiça
O amor, a liberdade?
O sofrimento, a tristeza
A coragem, a covardia
A vida, a morte, o não-ser
E o Ser, por primazia?
...
Enfim, falemos um pouco
De alguns pensadores que
Nos fornecem alguns exemplos
Do Saber pelo Saber:
“A idade não importa...”
Epicuro já dizia:
“...devemos filosofar
seja noite ou seja dia.”
“Quem que não quer conhecer
da verdade e do saber,
do amor e da amizade,
do prazer e do sofrer?!”
A vida nos lembra a morte;
A alma é imortal;
A Ética é, da Moral, consorte
E o bem contradiz o mal.
“Eu só sei que nada sei”
Foi Sócrates quem assim falou.
Porém não ficou parado,
O saber sempre buscou.
E segundo o nosso Fernando
Pessoa, só temos três
certezas com as quais contamos.
E vai uma de cada vez:
A certeza de que, e é certo,
temos que continuar
E mesmo sem saber onde,
busquemos sempre chegar.
E a certeza de que
seremos interrompidos.
O caminho não acaba
mas o destino é cumprido.
-
Finalmente, me despeço
De todos que aqui estão
Me desculpando e pedindo
Humildemente o perdão
Por torrar-lhes a paciência
Com esta minha enrolação...
... E que Deus abençoe a todos!!
- Desejo de coração.