O MILAGRE DO AMOR
Leitor, este nosso mundo
É repleto de ilusão
Uns choram de sofrimento
Outros de satisfação
E o homem desejando
O que não tem, vai passando,
Assim, os pés pelas mãos.
Deus deu a todos os seres
Humanos a inteligência
Para que eles usassem,
Certamente, com decência,
Trabalhando honestamente
E usando o que tem na mente
Com amor. Com consciência.
Porém alguns filhos seus
Não são capazes de ver
Que seus irmãos, seus iguais,
Também precisam ascender
E, assim, de forma safada,
Usam os mesmos como escada
Para o seu próprio crescer.
Mas não me refiro aqui
Ao crescer do seu espírito
Que é a vontade do Pai
Por ser um crescer bonito
E sim, o crescer em bens,
Riquezas que a Terra tem,
Tão somente um bem finito.
E aqui leitores, começo
A história que, em si,
Mostrando como a inveja
Faz uma vida ruir
E leva junto consigo
A amizade de um amigo
E o faz parar de sorrir.
No ano Quarenta e Dois,
Do Século vinte, nasceu,
Num Sítio, na Paraíba,
Margarida, o nome seu,
Uma menina sadia
Que seus pais, com alegria,
Das mãos de Deus recebeu.
Seus pais sendo agricultores
Da terra alheia – não tinham
Recursos. Mas, detentores
De um grande amor que os sustinham
Juntos, para os seus rebentos,
Adquiriam o sustento
Com que a todos mantinham.
Guidinha cresce, fugindo
Dos males que quase mata
A todos os seus irmãos
Que, pensa, lhe fazem falta,
E com as meninas vizinhas,
Que são suas amiguinhas,
Brinca. E é muito peralta.
Aos sete anos e meio,
Com a irmã, que casou,
Foi morar numa cidade,
Saindo do interior
Onde vem, de vez em quando,
Pois lá ficara morando
Seu pai - seu projenitor
E a sua mãe amada,
De quem não pode esquecer.
Mas necessita estudar!
Isso a faz se desprender,
Pois desde pequenininha
A grande vontade tinha
De aprender ler e escrever.
Um ano depois, seus pais
Resolvem também mudar:
Deixam o sítio, e na cidade
De Montanhas vão morar
Bem perto das suas filhas,
Suas duas maravilhas,
Que a saudade os faz chorar.
Na Cidade de Montanhas
Cresce e desabrocha a flor,
Com o carinho dos pais
Que lhe têm muito amor.
Porém não podem evitar,
Com as voltas que vida dá
A desgraça – o desamor.
Pois não é que Margarida,
Já mocinha, aos dezesseis
Anos de idade, decide
A, pela primeira vez
Arranjar um namorado,
E aí, seu pai revoltado,
Pratica uma insensatez.
É que o Seu Manoel da Luz,
Pai daquela linda flor,
Um homem crente em Jesus,
Que à filha tem muito amor,
Não quer que sua menina
Venha a sofrer com a sina
De casar com um malfeitor.
Pois o dito namorado
Que a sua filha arranjou,
É mesmo um desajustado:
Não sendo um trabalhador
Tem mais o costume feio
De pegar no que é alheio.
Veja só isso, doutor!
E assim, seu Manoel,
Usando do seu poder
De pai, decide lutar
Para a filha defender,
Proibindo a Margarida,
A sua filha querida,
Daquele malfeitor, ver.
Porém, o triste destino
Daquela pequena flor
Já fatalmente traçado
Ao seu bom pai enganou,
E, assim, quando anoiteceu
Sua filha – o tesouro seu,
Foi embora – se mandou!.
Jogou fora a proteção
Da mamãe e do papai,
Entregando-se às mãos
Daquele louco rapaz
Que além de irresponsável,
Era mau, o miserável.
E, então, não teve mais paz.
Era um lobo que vestia
Uma pele de cordeiro,
Jurando àquela menina
Amor puro e verdadeiro,
A quem ela se entregou,
Quando nele confiou
Corpo e alma – por inteiro.
Mas logo, ao ver-se distante
Da proteção dos seus pais,
Viu, com horror, quão diferente
Era o tirano rapaz
Que agora, sem esconder
Seu modo de proceder,
Faz mesmo o que bem lhe apraz.
Logo nos primeiros dias,
Longe dos pais da menina,
Ele mostra, com palavras,
Para ela, que a domina;
Que, para ele, ela é nada:
É só uma “descarada”!
Que o mesmo a abomina.
Diz pra ela: - O que eu queria
Já consegui! E tem mais:
O que eu desejo mesmo
É me vingar dos seus pais
Que acham que a beleza
Da “sua bela princesa”
É algo, pra mim, demais.
- Não é só isso, benzinho,
Que eu tenho pra dizer, não!
Pois eu vou contar-lhe um caso
Que é de cortar coração,
Não o meu, endurecido,
Porém o seu, derretido.
Escute e preste atenção.
- Há vinte anos atrás
Meu pai morava no Ingá,
Com seus pais, os meus avós
Que viviam a trabalhar
Na agricultura – alugado,
Cuidando, pois, do roçado
De outro Senhor do lugar:
Do Senhor Sebastião!
Era o Senhor seu Avô,
O pai da sua mamãe
A quem meu pai muito amou
No entanto ela, orgulhosa,
Se achando rica e formosa,
O seu amor desdenhou.
O meu pai se declarou.
Ao que ela, o esnobando,
Disse-lhe: - Eu já sou noiva!
Ouça e vá anotando.
Meu noivo é Manoel da Luz
A quem, juro por Jesus!
De verdade estou amando.
Ali, meu pai, humilhado,
Fitou-a bem e jurou:
[...]
Rosa R. Regis
Natal/RN - 2006
(... aguardando editoras de cordel interessadas. rrrs.)