O HOMEM DE PEDRA
Texto original: Rosângela Trajano,
cordel: Rosa Regis
Ilustração: Danda
Às crianças de Serra Nova, com carinho.
Era uma vez uma bruxa
Muito exigente e malvada
Que vivia a assustar,
Alta noite, à criançada.
Voava numa vassoura
À Meninada assustando
Porém, pra sua desdita,
A vassoura findou quebrando.
Por mais que ela ordenasse:
- Voe! Voe!... A vassourinha
Já não atendia mais
As ordens da tal bruxinha.
Chamou o seu gato preto
E o mandou dar um recado
A um homenzinho que sempre
A ajudava de bom grado.
Sendo o tal homem bondoso
E rico, nada cobrava
Pelo serviço prestado.
Isto muito a agradava.
Pegou suas ferramentas
E ao gato preto seguiu.
- Conserte! Disse-lhe a bruxa.
Nem por favor, lhe pediu.
O homem tentou de tudo
Para lhe satisfazer
Porém, no fim, afirmou
Que não tinha o que fazer.
- A vassoura está sem jeito,
Não há como consertar.
- Você está me mentindo!
Pôs-se a bruxa a gritar.
- Você está caducando!
- Nada mais sabe fazer!
O homem volta pra casa
Tristonho, sem responder.
O seu cachorrinho vem
Recebe-lo com alegria
Porém a bruxa malvada
Usa a sua bruxaria.
Transforma-o em pedra, e o feitiço
Dela só iria acabar
Quando alguém, ele, por dentro,
Fosse capaz de enxergar.
Ali, com braços abertos,
A espera do seu cão,
Ficou, pois, aquele homem
Dono de um bom coração.
Assim, passaram-se séculos!
Veio a industrialização,
A vila virou cidade.
Tudo mudou, ele não.
Uma estátua de pedra,
Patrimônio da cidade.
Era assim que todos viam
Aquele ser em verdade.
O orgulho do prefeito;
A atração do turista.
Porém a beleza interna
Jamais por ninguém foi vista.
Assim, centenas de anos,
Desta forma ele vivia
E quase que a esperança
De ser notado morria.
Porém, numa noite fria
De inverno, uma criança,
Trouxe-lhe de volta o fio
Daquela leve esperança.
Protegendo-se do frio,
Ao seu lado, ela notou
Que nele havia vida.
E isto a espantou.
Os seus olhos se moviam,
Batia-lhe o coração.
Viu nele bons sentimentos:
Bondade, amor, compaixão.
Viu nele um homem, em verdade,
E o abraçou com carinho.
O feitiço foi quebrado.
E com ele, o destino azinho.
O homem disse à menina
O que lhe tinha ocorrido,
A história da bruxa má
Com todo o acontecido.
Viu-se sem casa, sem roupa,
Sem comida, água... nada!
Valeu-se da menininha
Mas ela, pobre coitada,
Que era menina de rua,
A ele estava igualada.
O homem, de compaixão,
Sentiu no peito a pontada.
Porém disse à meninha:
- Não tem nenhuma importância!
Cuidaremos um do outro
Seja em qualquer circunstância.
E de mãos dadas, os dois juntos,
Saíram a caminhar
Na chuva, que parecia,
Que estava, naquele dia,
Com os dois a comemorar.
2009