GONZAGÃO, O VELHO LULA,
MAJESTADE DO SERTÃO...
Mil Novecentos e Doze,
13 de dezembro, o dia,
O sol brilhou mais que nunca
Pois neste dia nascia
Alguém que veio marcar
Nossa música popular
Com saber e maestria.
Na zona rural de Exu,
Na fazenda Caiçara
Na Serra do Araripe
Alguém de sabença rara
Nasceu para nos trazer
Bons momentos de lazer
Que nunca alguém nos doara.
Seu nome Luiz Gonzaga
Do Nascimento. E herdou
Do seu pai a atração
Pela música, que o levou
A buscar sempre fazer
O que lhe dava prazer,
A música. A quem se doou.
Desde pequeno Luiz
De uma sanfona gostava,
E no fole de 8 baixos
Do seu pai, sempre tocava.
Nas festas, feiras, forrós...
Do pai, andava nos cós,
Prazer por música mostrava.
Também tocava zabumba
Acompanhando as festanças
Tocadas por Januário
Sem participar das danças
Pois sua satisfação
Era ver o pó do chão
Sujar, das moças, as tranças.
Luiz gostava do palco
Disto nunca fez segredo,
Demonstrando seu desejo
Desde ainda muito cedo.
E aos dezoito de idade,
No Exército, na verdade,
Demonstrou isso sem medo.
Aos oito anos de idade
Luiz Gonzaga tocou
No lugar de um sanfoneiro
Numa festa. E aí ganhou
Seu primeiro pagamento
Como artista. E o momento
Em sua mente ficou.
Antes dos dezoito anos
O seu jovem coração
Enamorou-se e, por isso,
Sofreu uma punição:
Seus pais deram-lhe uma surra.
E aí, Luiz, de turra,
Foi embora do Sertão.
Seu pai: Senhor Januário
Ao saber da fuga, diz:
- Vai meu filho! Só desejo
Que tu sejas bem feliz.
Sua mãe, Ana Batista,
Com o pranto embaçando a vista,
O mesmo também lhe diz.
Serviu como voluntário
Ao Exército Brasileiro,
Viajou pelo Brasil
Todo, como corneteiro
E mostrando o que sabia
Fazer com muita alegria,
Mesmo, como sanfoneiro.
Foi aí que começou
A mostrar sua cultura
Tendo acesso às várias outras
Que no país se afigura.
E aproveitou o momento
Para mostrar seu talento,
Sua música sem mistura.
No ano de 39
Vai pro Rio de Janeiro,
Agora já conhecido
Como sendo um sanfoneiro,
Com sua sanfona nova
Nosso Gonzaga dá prova
De ser ótimo forrozeiro.
Se apresentava na Lapa
Ou nas ruas da Cidade
Onde passava o chapéu
Sem se acanhar. Na verdade,
Começou sua carreira
Nas praças, ruas e feira,
Pois tinha necessidade.
De início era um estranho.
Mas, logo, com o seu talento,
Viu-se sendo convidado
Para um ou outro evento,
Chegando, um dia, afinal,
À Rádio Nacional,
Pra ele um grande momento.
Num programa de calouros
Que Ary Barroso criou
Na Rádio Nacional,
Gonzaga se apresentou.
E o primeiro lugar
Ninguém lhe pode tirar,
Com Vira e Mexe ganhou.
Já nesse tempo Gonzaga
Despertava a atenção
Do público com sua música
E com o seu vozeirão
Inconfundível, que dava
Vida a tudo que cantava.
E o fazia com emoção.
Ao ouvir sua sanfona
Ninguém ficava parado,
O forró de pé-de-serra
E o baião ritmado
Que falava do Nordeste,
Terra de “Cabra de peste”,
Da vaqueirama e do gado!
Sua música Vira e Mexe
Virou Chamego e bombou
Logo que, com Miguel Lima
Parceria ele firmou.
Foi quando Paulo Gracindo
Deu-lhe um apelido lindo:
“Lua”, que logo pegou.
E Luiz Lua Gonzaga
Passou, pois, a se chamar.
E agora, com brilhantismo,
Passava a se apresentar.
Ele era compositor
Além de ótimo cantor.
Nascera para brilhar.
Um ótimo instrumentalista
Cujo som, bem ritmado,
Não invejava ninguém.
Mesmo não tendo inventado
O Baião tornou-se “rei...”
Do mesmo. E como “lei”
Isso ficou afirmado.
Junto com Humberto Teixeira
Ele popularizou
Nosso ritmo nordestino,
E o sistematizou
Como ritmo de raiz
Do nordestino infeliz
Que a sua terra deixou.
No ano Quarenta e Três
Na Rádio Nacional,
Já trajado de vaqueiro,
Representava, afinal,
Muito bem o nordestino
De cuja sorte ou destino
Conhecia o cabedal.
Gravou seu primeiro disco,
Com a Dança Mariquinha,
No ano Quarenta e Cinco.
E nesse tempo já tinha
Uma música no jibão,
Denominada Baião,
Que sucesso em si continha.
Em Quarenta e Seis, voltou
À sua terra natal,
Depois de dezesseis anos,
O que rendeu-lhe, afinal,
A Respeita Januário,
Que pede, de modo hilário,
O perdão por qualquer mal.
Casou-se em Quarenta e Oito
Com Helena, a primeira esposa.
Em Cinquenta e Um, já “Rei
Do Baião”, um jornal ousa
Considerá-lo “acabado”,
Cantor velho e superado.
Mas ele no “reino” pousa.
O ano Cinquenta e Dois
Trouxe-lhe muita alegria.
Com o Hervê Cordovil
Fez ele uma parceria,
E com Helena, adotou
Alguém que o Céu lhe mandou,
A filha, Rosa Maria.
No ano Cinquenta e Cinco
Há uma revolução :
Compactos 45
RPM. E, então,
O seu primeiro LP
De 10 polegadas, que
Foi uma compilação.
E nos anos que se seguem
Teve tristeza, alegria...
Perdeu sua mãe, Santana;
Entrou pra Maçonaria;
Teve a sanfona roubada;
Teve Asa Branca gravada...
Mais e mais aparecia.
Vira livro em Meia-meia
E, já no final da vida,
Reencontrou alguém que
Seria alento e guarida
Numa fase necessária
Onde a saúde precária,
Um grande amor, sem medida.
Recebe menção honrosa,
Especial, de valor!
Canta para o papa e ganha
- Obrigado cantador!
E ao completar Quarenta
De carreira, lhe alimenta
Mais homenagens, Doutor!
Vai a Paris a convite
Lança disco em Oitenta e Três.
E o primeiro de Ouro
Com o LP, digo a vocês,
Foi o Danado de Bom,
Que ele, sem mudar o tom,
Cantou em “bom Português”.
Recebe o Nipper de Ouro
E o disco de Platina,
Com o Forró de Cabo a Rabo
E, pra completar a sina:
50 Anos de Chão,
Contrato e separação;
Gravação e despedida
Do nosso REI DO BAIÃO.