Sem noção de amor fraterno// O homem agride o irmão,// Num ato que mostra o inferno// Que traz no seu coração.
Rosa Regis Brincando com os Versos
Pensares que se transformam //espalhando poesia, //pegam carona no vento// enchem meu ser de alegria
Textos
ROSA RECEBENDO O TÍTULO
DE CIDADÃ NATALENSE
                          
Há dois anos, mais ou menos,
Recebi a intimação
De um nobre vereador,
Dizendo fazer questão
De que eu fosse intitulada
Da nossa Natal amada
Filha do seu coração
 
Estava me oferecendo
Portanto, a Cidadania.
Ser Cidadã Natalense!
O que me encheu de alegria.
Porém, na minha labuta,
No dia a dia, na luta,
Do convite eu me esquecia.
 
Passou-se mais algum tempo,
E novo convite veio.
Desta feita preparei-me
Com calma, sem aperreio.
A minha biografia
Eu entreguei, de euforia,
Sentindo pulsar-me o seio.
 
Chega finalmente o dia
Da minha intitulação!
Estou emocionada,
Bate forte o coração,
Mas, dominando-me, tento,
Em versos, neste momento,
A minha apresentação
 
Eu nasci na Paraíba,
Jacaraú, a cidade,
Lá no Sítio Jerimum,
Onde “tu”, era, em verdade,
O tratamento comum.
Mas, desrespeito nenhum,
Qualquer que fosse a idade.
 
E apresento “O Jerimum”
De uma forma especial,
Lembrando-me como era
A minha Terra Natal
No tempo em que lá vivi,
Onde nasci e cresci
Numa infância magistral
 
 
   O    J E R I M U M
 
Jerimum é a terrinha
D’onde nasci, Seu Dotô!
Naquele tempo, era linda!!
Enfeitada de fulô.
Cheinha de passarinho
Cantando hinos de amô.
 
Minha casinha de taipa,
Cum chão de barro amassado,
Só tinha cuma mubia
Um banco nego e alongado
No aipende, sempre esperando
O viajante cansado.
 
Dento da casa, seu moço,
A sala era mubiada
C’uma banca de três perna,
Sempre de crochê forrada;
Um oratóro, e estampa
De santo dependurada.
 
Uma mesa e três banquinho
Encostada na parede.
Cotovelo de madeira,
Dois, pra armá uma rede.
Num canto da sala um pote
D’água, pra matá a sede.
 
Camarinha sem janela,
Só cabe a cama de vara
Adonde o casá, cansado,
De noite, nem arrepara
Na dureza da drumida.
E drome até qui quilára.
 
Do lado da cama, um cepo
Cum um candeeiro im riba,
Um currimboque e um cachimbo.
E o casá nunca briga!
Pruquê o casá briguento,
Deus pune. Ele castiga!
 
Na cunzinha, um jirau feito
De vara e quato fuiquia
Onde se lava as panela,
Os prato e outas vasia.
E no canto da parede,
Um pote n’outa fuiquia.
 
 
No ôto canto, três peda
Foimando o fugão de lenha
Potregido c’uma latra
Pra que o vento num venha
Apagá ele e, na hora,
O aimoço a famia tenha.
 
Os inchamé tudo preto
E de pucumã cubetho
Separado um dos ôto.
Im riba, o teto cubetho
Cum paia de coco seca.
Ninho cetho prus inseto.
 
É que a cunzinha é abetha.
Num foi cum barro tapada.
São só os pau infincado.
E in riba uma latada
Feita de paia de coco,
Pra livrá das invernada.
 
Os terrêro fulorado!
Limpo! Muito bem barrido!
Poi a moçarada barria
E apanhava no vistido
De saia laiga, godê,
Cuma era o custume tido.
 
Tudo era simpre, Dotô!
Mai o povo era fili.
Isso, era naquele tempo!
Pruque hoje, o qui si di
É qui o pogresso chegô
E fei nosso povo infili.
 
Os usinêro compraro
As terra purarredó!
Sem terra, o trabaiadô
Sofre qui fai até dó:
Ganhando um saláro mimo
Trabaiando só a só.
 
Só no tempo do prantio,
Da limpa e do cuiê!
Adispôs fica parado,
Sem tê nada qui fazê.
E isso é qui mata o pobe
Qui num tem do que vivê.
 
E agora, Seu Dotô,
Ele sofre ainda mai!
Pruque já cunhece as coisa
Qui num cunhicia atrai.
Cunhece e num pode tê!
Isso o fai sofrê  dimai.
 
Quando será qui meu povo
Vai, Seu Dotô, tê dereito
A uma vida mió?
Me pregunto: terá jeito?!
Poi s’inté os passarin,
Suas cantiga e seus nin,
O rico levô de eito!!
 
 
Rosa Ramos Regis
 
 
Natal/RN – 06/04/2006 (meia noite + ou -)
 
A MINHA BIOGRAFIA
EM RIMA E METRIFICADA
 

Trabalho que compõe o Livro de
ANNA MARIA CASCUDO BARRETO
MULHERES ESPECIAIS 2
Como um Depoimento Poético

 
 
“Sou filha de agricultores!
Casa de taipam o meu berço!
Criei-me de pés descalços
Participando de terço,
Cantando hinos pra santa,
Dormindo sempre sem janta,
Porém tendo à vida apreço.
 
Família de treze irmãos,
Porém só quatro escaparam
Das “doenças de menino”
Que aos outros nove levaram.
Eu escapei da papeira,
Da bexiga verdadeira...
Mas elas me maltrataram.
 
Meu pai era analfabeto
Porém bom “decorador”.
Ouvia cordéis na feira,
Pelejas de cantador
De viola e decorava.
Para os seus filhos contava
Com o peito cheio de amor.
 
Isto fez com eu amasse
Desde cedo a poesia
Em rima e metrificada
Como os cordéis que eu ouvia
Mas ao crescer precisei
Trabalhar e me ausentei
Do que me dava alegria.
 
Casando, minha irmã levou-me
Para com ela morar
Em Montanhas. E ali
Chegando, fui estudar
Na única escola existente
Do Estado. E era “decente”.
A Escola - um Grupo Escolar.
 
Grupo Escolar Carlos Gomes
Ou Escolas Reunidas
Carlos Gomes, pois mudou
Com nova Lei emitida.
E entrar naquela Escola
Seria uma grande esmola
Antes jamais recebida.
 
Não esmola simplesmente!
Pois isso não é legal!
Mas, uma dádiva divina,
Que elevou meu astral.
Pois não sei se isso é sina,
Mas, desde mui pequenina,
Eu achava-me anormal.
 
É que, diferentemente
Do povo do meu lugar,
Meninas principalmente,
Via-me ao me comparar.
O que elas tinham na mente
Era muito diferente
Do meu modo de pensar.
 
Eu sempre quis estudar
Com o intuito de aprender
Sem nem pensar que o estudo
Pudesse me oferecer
Algo mais que educação.
Pois jamais tive a intenção
De riquezas obter.
 
Foi o saber por saber
Que sempre me interessou,
Sem ambição por dinheiro
Ou seja, mesmo o que for.
E, assim, pequenininha,
Com a minha irmã mocinha,
Ia à escola, doutor!
 
Com quatro aninhos apenas
Soletrava o be-a-bá.
Aos seis, cantava cordel
Na rede a me balançar:
Pros meus pais, irmãs e tia,
E pro Jerimum, que ia,
Todinho, ouvir-me cantar.
 
Mesmo quando eu fui morar
Com minha irmã que casou,
Em Montanhas, lembro bem,
Nada jamais me afastou
Das rimas que tanto amava!
Pois nas feiras sempre estava
Em busca do cantador.
 
O cantador de cordel,
Que era o próprio vendedor
Dos livrinhos – dos folhetos
Que nos falavam de amor
E que diziam: no fim,
O mau sempre acaba ruim
E o bom sempre é vencedor.
 
E ficava arrepiada
Com as histórias “reais”
Tal como a do Boi Falante.
E de casos colossais:
O Pavão Misterioso
Que, num final glorioso,
Faz que sonhem os casais.
 
Era uma vida gostosa
De amor e de liberdade!
Especialmente quando
Meus pais vêm pra Cidade
De Montanhas, pra ficar
De vez. Ali vão morar.
Isto é que é felicidade!
 
Agora iria estudar
Como era minha vontade
Sem o controle da mana
Que agia com austeridade
Com a maninha “danada”,
Ativa mas malcriada,
Que afirmava ser ruindade.
 
Na escola sempre inquieta,
De todos tirando a paz.
De quem sentava na frente,
De lado, e até detrás,
Eu beliscava e mangava!
À professora irritava.
Era azougada demais!
 
Repito o Primeiro Ano
Por não saber Tabuada.
Quase morro de vergonha!
E choro desesperada!
Prometo a mim: - Nunca mais
Serei deixada pra trás
Por aquela desgraçada!
 
Meu Professor Severino
Purifica Maciel
Ficou na minha lembrança
Como um grande menestrel,
Um artista do saber
Que me ajudou a entender
Que o conhecimento é mel.
 
Do Jerimum pra Montanhas,
De Montanhas pra Natal,
Também passando em Recife,
Buscando vencer o mal
Do não saber. Pois queria
Estudar, mas não podia,
Faltava-me o capital.
 
Fui empregada doméstica
Mas pouco tempo aguentei.
Faltando-me a paciência
Com a minha mãe falei,
Tendo dela a aprovação
Pedi logo demissão
E noutro “emprego” pousei.
 
Daí passei a dar aula
Mas sem remuneração
Só por dormida e comida
E o resto da formação.
Era datilografia
O que ensinava e aprendia.
Doação por doação.
 
Outro emprego, de escritório,
Em seguida eu arranjei.
Representação de livros.
Neste, dois meses fiquei.
Os meus patrões, dois, sumiram!
Nem sequer se despediram.
O escritório eu fechei.
 
Seis anos e alguns meses
No comércio de Natal,
Tecidos, medicamentos,
Financeira e, no geral,
Em caixa... Eu trabalhei.
Até que um dia encontrei
Um trabalho especial.
 
Foi na COSERN, através
De um concurso que pedia
O Primeiro Grau completo
Que eu vi, foi chegado o dia
De conseguir me firmar,
Fiz a prova pra passar,
Conseguindo o que queria.
 
Aí já estava casada
E com meu segundo filho,
Parei de estudar de novo
Perdendo da vida o brilho
Pois eu amava a escola
Que, para mim, era a mola
Que bota o homem no trilho.
 
Vinte e um ano e meses
 A COSERN me firmou.
Só saindo aposentada
Quando esta privatizou.
E ali, na Companhia,
Formei-me em Economia
Mas ninguém me apadrinhou.
 
Aposentada, atrevi-me
A novo Vestibular,
Tentei pra Filosofia
Conseguindo me aprovar.
Tendo o curso começado
Fiz o Concurso do Estado
Também consegui passar.
 
Fui, pra Segunda DIRED,
A primeira colocada
Porém após quatro anos
Inda não fora chamada,
Fiz pra Natal, e no décimo
Fiquei. Mas só com o acréscimo
De três anos fui chamada.
 
Recomecei aos sessenta
O que vem nos afirmar
Que aos setenta, por força
Das Leis, vou me aposentar
De novo! Mas eu garanto,
Minha gente, que outro tanto
Ainda iria aguentar.
 
Amante da poesia,
Utilizo o meu cordel
Pra dar aula expositiva
Desempenhando o papel
De poeta cordelista.
Digo: Eu não sou artista
Mas versifico a granel!
 
Rezei aqui minha história
Ou seja, a biografia,
Seletando casos que
Atende ao que se pedia.
Rogo que, se não gostaram,
Escondam sua alergia.
Garanto que, se assim for,
Interinamente o amor
Servirá de sinergia
 
 
AGRADECIMENTOS
 
Os meus agradecimentos
A todos que aqui estão,
Em especial a Aquino
Neto, que fez a ação
Primeira, ao indicar-me
Para esse título. Honrar-me
Com especial atenção.
 
Ao querido Presidente
Da Câmara Municipal,
Dr. Franklin Capistrano
Que enriquece Natal
Com sua sabedoria,
Competência e alegria.
Ele é mesmo especial!
 
Sou Natalense!! Me orgulho
De ter tido a grande sorte
De tornar-me, agora, filha
Do Rio Grande do Norte.
Em sendo paraibana,
Sou, pois, uma potibana!
Sinto-me, assim, bem mais forte.
 
Que Deus nos cubra com a Graça
Da Sua Imensa BONDADE,
Levando PAZ e HARMONIA
À nossa linda Cidade
Que me abraça e me acarinha,
E que agora é também minha
Para toda a eternidade
 
 
Rosa Regis
Natal/RN
Agosto de 2016
Rosa Regis
Enviado por Rosa Regis em 19/08/2016
Alterado em 19/08/2016
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