A PEQUENA VENDEDORA DE FÓSFORO
texto: Rosa Regis
ilustração: Danda
(do conto original de: Hans Cristian Andersen)
Estava fazendo frio,
um frio que congelava.
A neve caía forte
e a noite se aproximava.
Última noite de dezembro.
A véspera de Ano Novo!
Sob a neve uma menina
esquecida pelo povo.
Perdida no meio do frio
intenso e da escuridão
ia ela rua afora
a pulsar-lhe o coração.
Pés descaço sobre a neve
e a cabeça descoberta.
Perdera as rotas sandálias.
Congelaria na certa!
Tentando escapar de um trem,
os seus chinelos, folgados,
escaparam dos seus pés
deixando-os descalçados.
Um ficou no meio da neve
e o outro foi apanhado
por um garoto travesso
que pensava, por seu lado:
- Vou fazer dele um bercinho
para minha irmã mais nova
brincar com a sua boneca!
Seu pensar não se reprova.
No entanto, enquanto isso,
a menininha seguia
com os pés descalços já roxos
do frio que a possuía.
Levava em seu avental
uma certa quantidade
de fósforos, e oferecia
a todos pela cidade.
Oferecia dizendo:
- Quem compra fósforos a mim?
São baratos! Mas o dia
para as vendas, fora ruim.
Ninguém comprara seus fósforos,
não conseguira vender
nenhum palito. E com fome
e frio estava a tremer.
Muito fraca, cara pálida...
coitada da menininha!
A neve branca cobria
toda a sua cabecinha.
Seus belos cabelos loiros
grandes e encaracolados,
ela nem pensava neles
mesmo sentindo-os gelados.
Pelas janelas de vidro
via as luzes coloridas
e o cheiro da carne assada
que alimentava outras vidas.
Era véspera de Ano Novo!
Nisso sim ela pensava.
Sentou-se ao chão e encolheu-se.
O frio lhe traspassava!
Se voltasse para casa
sem nenhum fósforo vender
o seu pai enraivecido
podia até lhe bater.
Além do mais sua casa
não tinha qualquer conforto.
Era fria, sem calor,
como sendo um espaço morto.
Toda cheia de buracos
por onde o vento passava
apesar de alguns farrapos
com os quais sua mãe tapava.
Com o frio paralisando
suas mãozinhas, pensou
que se ela riscasse um fósforo
melhoraria. E riscou.
Com aquela chama acesa
a menina imaginou-se
em frente a um grande fogão
que um calor gostoso trouxe.
Mas logo o fogão sumiu.
Outra vez ela acendeu
novo fósforo e outra visão
à menina apareceu.
A luz dando na parede
fez que a mesma se tornasse
transparente e que a menina
através dela enxergasse.
Coberta com uma toalha
como a neve, bem branquinha!
Repleta de gostosuras:
bolo e torta de galinha.
Acendendo mais um fósforo,
agora, viu-se sentada
debaixo de bela árvore
de Natal, toda enfeitada.
Mais enfeitada que a outra
que vira anteriormente.
Velas acesas nos ramos,
belos cartões de presente.
Ergueu a sua mãozinha
e os cartões tentou pegar,
mas nisso o fósforo apagou
ela não os pode alcançar.
As luzes se confundiam...
E a menininha pensava
ser estrelas. E uma delas
caiu e o fogo alastrava.
“É alguém que está morrendo”-
pensou. Pois sua vovó,
que a amava e que morrera,
disse-lhe um dia, com dó:
.
- Quando uma estrela cai,
naquele instante é levada
uma alma para Deus
sã e salva. Abençoada.
Ela riscou mais um fósforo
e o espaço se iluminou,
logo a vovó da menina
apareceu e a abraçou.
- Vovozinha, vovozinha,...
Você pode me levar?
Sei que a Senhora se vai
quando este fósforo apagar.
Como aconteceu com as chamas
de fogo e com a comida,
com a árvore de Natal.
- Me leva vovó querida!
Acendeu todos os fósforos
que ainda consigo tinha
para reter a imagem
da querida vovozinha.
Sua vovó lhe parece
bem maior e bem mais bela.
Esta lhe toma nos braços
e voa junto com ela.
Alegres e iluminadas,
sempre mais alto subindo
sem fome, sem frio ou medo,
felizes, sempre sorrindo.
No canto das duas casas,
na parede recostada,
ficou a pobre menina
que morrera congelada.
Faces rosadas, sorriso
na boca que congelou
na última noite do ano,
quando su’alma voou.
E a primeira manhã
do Ano Novo iluminou
O corpinho da menina
que o desamor congelou.
- Ela queria aquecer-se!
Alguém passando, dizia.
Mas ninguém imaginava
o que agora ela sentia.
O Ano Novo trouxera
para aquela menininha
Felicidade e Esplendor.
Vencera, enfim o AMOR
que todo o seu SER continha.
FIM