Sem noção de amor fraterno// O homem agride o irmão,// Num ato que mostra o inferno// Que traz no seu coração.
Rosa Regis Brincando com os Versos
Pensares que se transformam //espalhando poesia, //pegam carona no vento// enchem meu ser de alegria
Textos


Ao protetor das crianças,
Ao meu anjo protetor,
Às fadas, aos serafins,
Ao nosso Pai Criador,
Peço ajuda pra contar
Um lindo conto de amor.
 
É uma história criada
Por uma amiga do peito
Que transformei em cordel,
Recontando do meu jeito
Mas sem tirar-lhe a essência.
Espero ser bem aceito.
 
 
CHAPEUZINHO AZUL
Texto original: Rosângela Trajano
Cordel: Rosa Regis
Ilustração: Danda
 
Há muitos e muitos anos
Nasceu uma menininha
Na rua, e nela criou-se,
Junto com sua mãezinha.
 
Sabia como era triste
Dormir no chão, ao relento,
Com frio, sem cobertor,
Por vezes sem alimento.
 
Tudo das ruas sabia.
A coisa que mais gostava
Era ver o colorido
Dos carros quando passavam.
 
No semáforo ganhava
Alguns trocados no dia
Os quais a mamãe juntava
Mas de cachaça bebia.
 
A menininha, coitada,
Nunca se deu ao prazer
De comer um chocolate
Para o seu gosto saber.
 
Ou mesmo um algodão doce
Pra sua vida adoçar
Até os seus sete aninhos
Pois não podia comprar.
 
Um passeio com amiguinhos
No circo ou parque infantil
Ela não tinha direito.
Nunca viu um pastoril!
 
Certa noite a menininha
Que dormia na calçada
Fria, com sua mãezinha,
É por alguém visitada.
 
Alguém que se aproximou
À menina agasalhando
Com uma capinha azul
Foi de manso, se afastando.
 
Se foi homem ou foi mulher,
Ninguém soube, ninguém viu
Que aliviou o frio
Da menina. Que a cobriu.
 
Sabe-se é que a menininha
A capinha conservou
Sempre na sua cabeça,
Dali nunca mais tirou.
 
Assim Chapeuzinho Azul
Passou a ser o seu nome.
E nunca mais sentiu frio
Mesmo dormido com fome.
 
Sua mamãe que bebia,
O que de dia ganhava
Como “flanelinha” a grana
Para a comida faltava.
 
Bebia para esquecer
A tristeza. Ela dizia.
E bebendo até cair
No chão, nele adormecia.
 
Chapeuzinho Azul se via
Sozinha e desprotegida,
Tendo, na mais tenra idade,
Que enfrentar tão triste vida.
 
Um belo dia a mamãe
De chapeuzinho ganhou
Um pacote de docinhos
E a menininha chamou:
 
- Chapeuzinho vá levar
Estes doces pra vovó!
Eu sei que ela vai gostar!
Não se sentirá tão só.
 
A vovó de Chapeuzinho
Tinha um passado sofrido,
Foi moradora da rua
E tinha um péssimo marido.
 
Ele era um alcoolista
E fez a mesma sofrer
A vida inteira, sem dó,
Até esta envelhecer.
 
Quando envelheceu bastante
Um grupo anônimo levou
A mesma para um abrigo.
E ali a vovó ficou.
 
Naquele dia fazia
Seus noventa e oito anos
De dores, de sofrimentos,
Sem ter festa nos seus planos.
 
Chapeuzinho preparou-se
Pondo sua capa azul,
Se resguardando do vento
Frio que vinha do Sul.
 
E dirigiu-se ao abrigo
Onde a vovó residia.
Sua vovó tinha um lar!
Vê-la era grande alegria!
 
Ela tinha onde morar!
Diferente da menina.
Isso traz felicidade
A todos. Pois muda a sina.
 
O abrigo era distante
Da rua em que Chapeuzinho
Azul morava. E ela foi
Feliz, seguindo o caminho.
 
Calçadas abarrotadas
De gente que está voltando
Do trabalho, a multidão,
Vai à menina empurrando.
 
No caminho havia um parque
Ecológico que continha
Árvores e bichos diversos
Desde o elefante à toninha.
 
Porém Chapeuzinho Azul
Acostumada à braveza
Das pessoas nada teme
Do que vem da Natureza.
 
Já havia ultrapassado
O semáforo, consciente,
Quando de repente um lobo
Pulou bem à sua frente.
 
- Ai que susto! Assim você
Pode me matar de medo!
- É pra ter medo! Eu sou mau!
Responde-lhe o lobo ledo.
 
- E o que faz um lobo mau?
Perguntou-lhe a menininha.
- Engole meninas! Disse.
Fazendo uma caretinha.
 
- Ah! Mas a sua barriga
Pequena pra me caber,
Eu sei, é certo, meus pés
Deixaria aparecer.
 
- Menininha não duvide
Da minha capacidade!
Sou um lobo muito mau!
Estou falando a verdade.
 
- Sabe, seu Lobo, eu lhe digo:
Quando moramos na rua
Desde cedo conhecemos
A maldade nua e crua.
 
Você quer ser meu amigo?
Perguntou-lhe a menininha
Chapeuzinho Azul que era
Carente de uma amiguinha.

- Amigo? Você quer ser
Amiga de um lobo mau?
Pergunta o lobo abismado
Com sua cara de pau.
 
- Sim! Quero! Respondeu-lhe
A menina prontamente.
- Eu nunca tive um amigo.
Afirmou-lhe consciente.
 
- E se um dia eu lhe engolir?
Perguntou desconfiado,
Já achando que a menina
Tinha o juízo virado.
 
- Eu o perdoarei, pois sei
Que não fará por maldade.
Mas, porque sentirá fome.
Isto eu conheço, em verdade!
 
O Lobo Mau balançou
O seu pezinho direito,
Coçou a cabeça e olhou
A menininha... de um jeito...
 
Com vontade de engoli-la
Mas com vontade de ter
O amigo que nunca teve.
Decidiu por se conter.
 
Todo mundo tinha medo
Dele menos Chapeuzinho
Azul. Isto o fez tanger
Seu pensamento daninho.
 
E ter um amigo em tempos
Em que os carros disparados
Põe nossa vida em perigo,
É garantir mais cuidados.
 
- Aceito ser seu amigo!
Disse o lobo de repente.
Já perguntando aonde ia
A menininha carente.
 
- para onde você vai
Com essa capinha azul
E esse pacote do lado,
Para o Norte ou para o Sul?
 
Respondeu-lhe Chapeuzinho:
- Eu estou indo deixar
Doces para a vovozinha.
E já começa esfriar!
 
Ela mora num abrigo
Para pessoas idosas!
Hoje é seu aniversário!
Vou levar doces e rosas.
 
- Vou com você! Disse o lobo.
Porém não fique espantada
Se engolir uma velhinha!
Sou um lobo mau, mais nada!
 
A menininha pegou
Na mão do seu novo amigo,
O Lobo Mau, e se foram,
Sem temor pelo perigo.
 
Por ruas cheias de prédios
E pessoas apressadas.
Tudo tinha pressa ali,
Nas ruas e nas calçadas.
 
A menina e o lobo juntos
Sequer chamou a atenção.
Ninguém observou nada
E nem fez qualquer ação.
 
Ao chegarem ao abrigo
A menina perguntou
Onde encontrar sua avó
E logo alguém lhe informou.
 
O homem da portaria,
Que usava óculos, falou:
- Os bichos são proibidos
De entrar aqui. Empatou.
 
- Este cachorro pulguento
Terá que espera-la aqui.
- Ele não é um cachorro!
É o meu amigo Jolly.
 
- Seja o que for ele é bicho!
Sendo bicho, aqui não entra!
Disse o porteiro enfezado,
Fechando a cara sardenta.
 
A menininha pensou
Nas pessoas que moravam
Nas ruas que muita gente
Nem confiança lhe davam!
 
Confundindo-as com bichos
Até medo e nojo tinham!
E de demonstrar tal coisa
Seus instintos não continham.
 
Deixou seu amigo lobo
A espera na portaria
E foi ver sua vovó,
Já demonstrando alegria.
 
A vovó que conversava
Com outras da sua idade,
Parou para recebê-la
E abraça-la com vontade.
 
- Boa tarde, vovozinha!
Docinhos para a Senhora!
E entrega-os à vovozinha
Que de emoção quase chora.
 
- Boa tarde, minha neta!
Como você está linda!
E com esta capa azul
Sua beleza é infinda!
 
A vovó nunca cansava
De dizer isto à menina.
Era sempre a mesma coisa.
Queria mostrar-se fina.
 
Ou talvez não se lembrasse
Das vezes que havia dito
A mesma frase à neta.
Já tinha a mente em conflito.
 
Porque dezenas de vezes
Já vira a sua netinha
Vestida naquela capa.
Outra pergunta lhe vinha:
 
Perguntava da idade
De chapeuzinho que fingia
Nem ouvir mais a pergunta
E doces lhe oferecia.
 
- Trouxe doces pra Senhora
No seu dia, de presente!
- Que gostosura, querida!
Coma comigo. Se sente!
 
A vovó fez Chapeuzinho
Sentar-se numa cadeira
De balanço. Enquanto isso,
Quase em tom de brincadeira,
 
Ofereceu-lhe um dos doces,
O famoso brigadeiro.
Chapeuzinho Azul comeu,
Assim, seu doce primeiro.
 
Pois durante toda a vida
Jamais havia provado
Nem com a ponta da língua
Um doce ou mesmo um salgado.
 
Comeria todos eles
Se a vovó não interviesse:
- Deixe um pouco para mim!
A menininha dissesse.
 
A menina conversou
Um tempão com sua avó
Enquanto comia doces.
Mas, lembrou... Não veio só!
 
O Lobo Mau lhe esperava.
A menina então guardou
Um docinho para ele.
E à vovó, dele falou.
 
- Onde está seu amiguinho?
Pergunta a idosa Senhora.
- Está lá fora vovó,
Me esperando até agora.
 
O porteiro não deixou
Que ele entrasse comigo
E o coitado ficou lá
Como se estando em castigo.
 
- Ah! Que pena! Ele não deve
Ser de todo mau assim!
Cuide dele e ele será
Bom no final! Creia em mim!
 
- Ninguém nasce mau, querida!
- Mas ele diz engolir
As pessoas! Isso assusta!
Não há como lhe impedir?
 
- Ah, ah, ah, minha querida!
Pelo que entendo e pressinto
Ele quer lhe fazer medo!
É só um lobo faminto.
 
Chapeuzinho despediu-se
Da vovó e caminhou
Para a portaria. Ali
O lobo logo encontrou.
 
Estava feliz da vida
Com a barriga estufada,
Não ligou nem para o doce
Pois não queria mais nada.
 
- Lobo, o que tens na barriga?
Pergunta logo a menina.
- Eu engoli o porteiro!
Responde o lobo traquina.
 
- Ele bateu-me, espancou-me
Com uma vassoura! Sem dó!
Tratou-me mal! Não gostei!
E aí levou a “pió”!
 
- Mas isso não se faz lobo!
Devolva já o porteiro!
Você não pode sair
Engolindo o mundo inteiro.
 
Você não pode engolir
Todos que lhe fazem mal!
Se eu fizesse assim também,
Pra mim seria fatal.
 
- Vamos! Devolva o porteiro!
- Mas... Não sei como fazer!
Diz o lobo: - Como posso
O porteiro descomer?
 
Analisa a menininha:
- Meu Deus! Preciso pensar!
Mas só tenho sete aninhos,
Precisa alguém me ajudar.
 
E o lobo, cheio de marra,
Diz: - Estou de bucho cheio!
Por uma semana inteira
Eu não vou ter aperreio.
 
- Melhor não pensar em nada!
Vamos voltar para casa!
Diz o lobo sem pensar
Que isto à menina arrasa!
 
O porteiro deve ter algo
De bom no seu coração,
Não é de todo malvado
Malvada foi sua ação.
 
Você não devia ter
Feito o que fez! Não se iluda
Pensando que agiu direito!
Vamos já pedir ajuda!
 
Vamos falar com a vovó,
Ela nos pode ajudar.
O lobo a segue arquejando.
Quase sem poder andar.
 
Voltaram para o abrigo
E Chapeuzinho contou
Tudo para a vovozinha
Que, paciente, escutou.
 
E ao ouvir, com detalhes,
Tudo o que o lobo aprontou,
Ela virou-se pra ele
E, de chofre, perguntou:
 
- Lobo por que engoliste
Nosso porteiro? Por que?
Quem vai ficar atendendo
Na portaria? É você?
 
- sou um lobo mau, vovó!
Eu sempre engulo pessoas!
- Seu Lobo ninguém é mau!
As criaturas são boas!
 
A maldade se adquire!
Vamos tirar o porteiro
Que está dentro de você
Agora, mais que ligeiro.
 
Um segurança do abrigo
A vovozinha chamou
Para ajudar a salvar
O porteiro. Ele topou.
 
Era um homem alto e forte!
Foi chegando e segurando
O lobo, que esperneava,
A reclamar sempre uivando.
 
A vovó abriu bastante
A boca dele e botou
Chapeuzinho Azul lá dentro.
Ela o porteiro encontrou.
 
- Puxe o homem para fora!
Gritou de fora a vovó.
- Peguei no pé do porteiro,
Pode puxar minha avó!
 
Chapeuzinho saiu da boca
E o porteiro da barriga
Do lobo a quem tudo aquilo
Provocou uma fadiga.
 
O homem, muito assustado,
Ao ver-se livre reagiu:
- Eu quero e vou matar esse
Cachorro que me engoliu!
 
- Calma homem!  Ele é só
Um lobo que precisava
De comida! Pois há muito
Que já não se alimentava.
 
- Mas o lobo me engoliu!
Merece que eu lhe dê fim!
- Já ouviu falar de perdão?
A avó perguntou-lhe assim.
 
- Não sei o que é perdão
Nem quero saber quem sabe!
Vou pegar esse maldito
Para dar-lhe o que lhe cabe!
 
Mas a vovó tenta ainda
Convencer o tal porteiro
A dar o perdão ao lobo
Que dali corre ligeiro.
 
- Jesus perdoou a todos
Os que lhe fizeram mal
Você deve perdoar
Pra ser feliz no final.
 
Enquanto a vovó fazia
Arrodeios e tentava
Chamar o homem ao perdão,
O lobo já se mandava.
 
Foi para longe do abrigo,
Chapeuzinho Azul atrás
Porém mantendo distância
Das suas intensões más.
 
O lobo estava faminto
Novamente. Ela podia
Ser presa fácil pra ele,
Que engoli-la poderia.
 
Pois sendo o lobo animal,
Seu instinto é engolir
Não interessa quem seja,
Tão só para se nutrir.
 
- Vamos comigo! Ela chama.
Quem sabe á noite aparece
Alguém pra deixar comida!
Fala a ele, como em prece.
 
- Melhor não ir com você,
Menininha! Pode ser
Que eu engula muita gente!
Não sei se vou me conter.
 
- Eu sou mesmo um lobo mau!
Responde-lhe a menininha:
- Não lhe tenho nenhum medo!
Fala, enquanto o acarinha.
 
Você já não me faz medo!
Já disse! Venha comigo!
Você não é mau, seu bobo!
Além disso, é meu amigo.
 
Os dois caminharam juntos
Pelas ruas da cidade
Novamente, admirando
A Natureza em verdade.
 
O Céu estava estrelado,
Lindo! Mas os restaurantes
Recheados de comidas
Lembrou a fome de antes.
 
Ronca a barriga do lobo
E ronca a da menininha.
Se fora toda a sustância
Dos doces da vovozinha.
 
Uma Senhora tomou
Um susto com o Lobo Mau;
Alguém, em um restaurante,
Expulsou o lobo a pau.
 
- Menina e cachorro sujos
Vão para longe daqui!
Os fregueses não suportam
Esse cheiro de piquí!
 
Caminharam mais um pouco
E viram, numa lixeira,
Alguém que jogava restos
De comida. Bem ligeira,
 
A menina encaminhou-se
Para lá, chamando o lobo,
Que correu mais que depressa!
Pois pensou: Eu não sou bobo!
 
Chapeuzinho, acostumada
Que era a virar o lixo,
Sem falar já começou
A comer qual sendo um bicho.
 
Deu uma asa de frango
Ao amigo Lobo Mau
Que comeu tudo! Ficando
Depois daquilo, no grau!
 
- Está satisfeito Lobo?
- Huummm... Agora sim!
Mas preciso despedir-me!
Chegou a hora pra mim.
 
Tenho que voltar ao Parque!
Lá ninguém me faz maldade,
Não me chamam cão pulguento.
Lá sou lobo de verdade!
 
- Tudo bem! Diz a menina:
Se tu gostas do teu lar,
Então volta! Eu voltarei
Para onde é meu lugar.
 
Para perto da mamãe.
Ali tenho proteção!
Mesmo dormindo na rua
Em cima de um papelão.
 
- Não tenho lar pra morar!
Diz Chapeuzinho, tristonha.
- É triste ver uma menina
Sem lar! É coisa medonha!
 
Se eu possuísse uma casa
Te ofereceria abrigo.
Levaria vocês duas
Para morarem comigo.
 
- Obrigada, meu amigo!
Sei que você é bondoso,
Que tem um bom coração
Mesmo não sendo formoso.
 
Ainda se despediam,
Despreocupadamente,
Chegaram guardas do parque
Agindo violentamente,
 
Prendendo e levando o lobo
Consigo, capturado.
Não se sabe para onde
O “Lobo Mau” foi levado.
 
Chapeuzinho Azul só viu
Que ele foi colocado
Em cima de um caminhão,
Numa jaula, acorrentado.
 
Talvez nunca mais que visse
O seu amigo outra vez!
É assim, a vida é assim...
Toda cheia de talvez.
 
Então voltou Chapeuzinho
Para a rua onde morava,
Encontrou sua mãe bêbada
Que com as pessoas falava.
 
Pessoas da sua mente
Que ela pensava real
Porém só ela as via,
Como sobrenatural.
 
Chapeuzinho resolveu
Fazer o que mais gostava,
Ver a cor de cada carro
Que pela rua passava.
 
E ficava acompanhando
Dos carros, seus coloridos,
Até que o sono chegasse
Dominando-lhe os sentidos.
 
De repente aproximou-se
Alguém... Era madrugada...
Quem seria? O que fazia
Pelas ruas?... nada, nada,...
 

 
                    Rosa Regis
Natal/RN – setembro de 2017
 
 
Rosa Regis e Rosângela Trajano
Enviado por Rosa Regis em 02/02/2018
Alterado em 22/06/2018
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