Sem noção de amor fraterno// O homem agride o irmão,// Num ato que mostra o inferno// Que traz no seu coração.
Rosa Regis Brincando com os Versos
Pensares que se transformam //espalhando poesia, //pegam carona no vento// enchem meu ser de alegria
Textos
AQUELA “CASA SEM NOME”
DEIXOU-ME MUITA SAUDADE
(CASA SEM NOME, O NOME DA SUA CASA DE TECIDOS)
    Uma homenagem aos amigos inesquecíveis

 

Surgiu ali no Alecrim,
Na Praça Gentil Ferreira.
E lá fui eu na carreira
Pedir emprego pra mim.
De Meia Nove era o fim,
Fui muito bem recebida
Pelo gerente que a vida
Fez-me melhor conhecer.
Foi onde vi que o poder
Não é do amor, medida.
             

E da SEM NOME falando,
De como foi que surgiu
E tal nome adquiriu,
Eu acabei me lembrando
No início do comando
De Félix, tinha outro nome:
DOIS CENTAVOS! Não SEM NOME!
Este a mesma só ganhou
Quando em “L” se tornou,
Com CASA como prenome.

É do corpo de empregados
Que agora passo a falar,
De quem eu não me lembrar
Espero ser dispensado
O esquecimento é dado
Um desconto pra esclerose
Que eu já tenho em boa dose
E que teima em me fazer
De alguma coisa esquecer,
Provocando-me neurose.
 
Aos ex-colegas que a mente
Não consegue recordar
Eu imploro dispensar,
Não sendo muito exigente
Com esta idosa que sente
Uma saudade sem fim
De todos! Mas, mesmo assim,
Os nomes desarquivaram
Da minha mente. Voaram
Nas asas de um serafim.
 
Seu Felix era o gerente.
Seu Luís o acompanha,
É o seu sub. E a manha
Do chefe ele tem em mente,
Estando sempre presente
No lugar que o chefe quer.
Mas não pode ver mulher,
Seja estranha, seja prima,
Não dispensa! Dá em cima,
Sem ligar pro que vier

E Felix, cabeça quente,
Ficava sempre irritado
Se as vendas um resultado
Bom não desse ao fim do dia.
Porém mostrava alegria
Quando o motivo era festa
Estando sempre na testa
Da fila pra festejar
Bem como para brindar
À sua satisfação.
Eu sei que seu coração
Era fácil de dobrar.

A querida Dedezinha
Trabalhava no escritório
Distante do falatório.
Eu era sua vizinha.
Não conheço quem não tinha
Por ela imenso carinho.
Sempre lá no seu cantinho
Fazendo as contas da loja.
Ninguém à mesma se arroja
Com palavrear daninho.

Dias, tremia de medo
De Seu Félix o gerente
Mandão e inconsequente,
Nos cochichando, em segredo,
Vem nos falar do “degredo”
Que é ir para a “berlinda”.
E quem é novato ainda
Fica a “voar”, sem entender
O que se estar a dizer.
Mas aprendendo, ele finda.
 
Seu Félix, porém, pra mim,
No começo se mostrou
Um bom homem. Me ajudou
Numa fase muito ruim
Por que passei. E, assim,
Dispenso o que veio depois
E que atritou nós dois
Já na Loja FELIZÃO.
- Vos digo de coração:
Meu inimigo não sois!
 
Carmosa com Iracema,
Inseparáveis, amigas,
Entre as duas não há brigas!
Não existindo problema
Na criação de um esquema
Para o aumento das vendas,
Sem discussão, sem contendas,
Mas, pra dizer a verdade,
Com as duas, minha amizade,
Sempre foi cheia de fendas.
 
Iracema, muito calma,
Bem educada não briga
Com ninguém, mas me castiga
Machucando-me a alma.
Porém depois dou-lhe a palma
Da mão com meus cumprimentos!
Foi só por poucos momentos
Que eu fiquei com raiva dela,
Relevando-lhe a querela
Que a mim trouxe sofrimentos.

Carmosa calma também,
Impunha muito respeito!
Diante do meu conceito
Era uma alma do bem.
Não ofendia ninguém!
Sua amizade suprema
Era mesmo com Iracema
E Maria Alves. Acho!
Com quem conversava baixo
Sem mostrar qual era o tema.

Maria Alves, pouquinha,
Calada mas esquentada
Não deixando passar nada
Se alguém a si aporrinha.
Porém era boazinha
Mostrando tranquilidade
Sendo propensa à amizade
Daquele que aceitasse
Seu jeito e a respeitasse
Com toda sinceridade.

Maria José, mal fala!
Porém vende que nem presta!
E quando é tempo de festa
Aí sim, sai da escala:
Mete a taca! Mete bala!
Vende, vende sem parar.
Quem quiser lhe acompanhar
Nas vendas, tem que correr,
Não parar nem pra comer
Ou nem seus pés vai cheirar.

Zé Maria nem precisa
Se esforçar para vender,
É só olhar para ver!
Vende tecido, camisa...
Para o seu cliente avisa
O que está para chegar,
Pede pra lhe procurar
Da próxima vez que vier.
E assim consegue o que quer
Com jeito, sem se estressar.

Graça Sena, minha amiga,
Em qualquer ocasião,
Por mim ela punha a mão
No fogo, entrava na briga!
Quando alguém fazia intriga,
Mostrava a sua amizade
Para comigo. Em verdade,
Eu a lembro com carinho,
Mandando a ela um beijinho
Cheio de afeto e saudade.
 
Cesária, meio calminha,
Mas é boa te tesoura!
Nem se espera, e ela estoura!
Afinal, sendo mansinha,
Ao somar cada vendinha
Que fez, vê que, no final,
Não se deu assim tão mal
Pois deu pra cobrir a cota
E inda sobrou uma nota
Pro São João ou pro Natal.

Rosa, muito espevitada,
Mexia com todo mundo!
Não parava um só segundo!
Além de ser malcriada,
Nunca ficando calada
Se alguém lhe desacatava.
Mas, se alguém dela falava,
Por trás, sabendo, fingia
Que de nada ela sabia.
E, por isso aquilo ficava.

Joanas D’arc são duas:
A uma é calma, tranquila,...
De clientes não tem fila,
Mas poucas freguesas suas,
No máximo uma ou duas,
Saem sem nada comprar.
E, assim, no fim vai dar
Pra sua cota cumprir,
Indo sempre conseguir
Seu emprego segurar

E a segunda Joana D’arc,
Que é Joana D’arc Barreto,,
É mais danada – um espeto!
Mas não é lá grande craque.
Nas vendas não tem destaque
Mas, pra mim, não tem defeito.
É minha amiga do peito!
Passamos a estudar
Juntas – no mesmo lugar.
Colar é nosso defeito.
 
Eu sou ruim de História
Também de Geografia
Mas, para minha alegria,
D’arc não é. É a glória!
Colando, tenho a vitória.
E pra ela que é estática
Na terrível Matemática,
Pra não ficar na miséria,
Encomendo-lhe a matéria,
Dando-lhe a cola. É a tática.

A Marluce e a Marlene...
Eu quase que me esquecia!
Mas enquanto as fotos via
Vê-me a lembrança solene
Num flash... e faz-se perene
Enquanto eu vou anotando,
Ao cordel acrescentando...
Marluce, da embalagem;
Marlene, caixa. A imagem
Vai sempre mais clareando.

A garotinha do Caixa,
Marlene, era boa amiga
De todos! Não tinha briga
Com gente da sua faixa,
Como Marluce. E se encaixa
Entre as pessoas do bem.
Não ofendia a ninguém.
E dentro do meu conceito,
Era de muito respeito,
Bom caráter e mais além.
 
Albino, no taboleiro,
Era o maior! Eu diria.
Bem de longe a gente ouvia
Os seus gritos – um vozeiro!
Sendo afinal o primeiro
Lugar no final do mês,
Não sendo só uma vez
Mas sempre durante o ano!
Hoje já está noutro plano.
Aqui, bons amigos fez!
 
Clóvis, que era apaixonado
Por alguém que não queria
Nada com ele, sofria
Tal qual um desesperado...
Passou um ano afastado
Servindo à Pátria! Ao voltar
Viu que perdera o lugar
Para um galego novato,
Simpático, metido a gato.
Não pode se conformar.

João Suassuna, o “Cosquinha”,
Um cara muito legal
A quem provoquei um mal
Não por ter alma mesquinha.
É que a sua noivinha,
Pelo mesmo, apaixonada,
Viu-se um dia enciumada
Por ver uma foto nossa
Que nós tiramos por troça,
Mas sem significar nada.

Ele, estando inconsolável,
Procurou-me e me contou
Enquanto me perguntou
Se podia ser provável...
Eu lhe respondi, afável,
- Eu estou com namorado
E você, apaixonado,
Que é pela sua amada
Peça perdão, camarada!
E logo estava casado.

Roberto, de Costa irmão,
Baixinho e apimentado,
Nunca ficava parado.
Sempre estava no balcão
A atender com precisão.
E o cliente que buscava
Um tecido e o encontrava,
Não saía sem comprar.
Um ou outro ia levar.
Na sua conversa entrava.

Costa, bem alto e esguio,
Sempre mui bem comportado!
Por todos nós respeitado
Pois era um cara de brio.
O lembro como um bom “tio”
Com quem podia contar
Sempre para conversar
Na hora que precisava
Porque Costa demonstrava
Que estava pronto a escutar.

Gilson, alegre e benquisto,
Com a cara de menino,
Parece ser rapaz fino.
Eu mesmo acredito nisto!
E pelo que deixou visto,
Mesmo sem ter a intenção,
Balançou o coração
De alguém. Porém Iracema
Resolve logo o problema
Tirando-lhe a ilusão.

Lenilce, a pequenininha,
Sempre alegre e divertida,
Mostrava que amava a vida
E boa índole tinha.
Sabe-se que era amiguinha
De Iracema e Carmosa,
Estando sempre de prosa
Com as amigas do peito
Num papear bem aceito,
Já que da amizade goza.

Chagas era balconista
Como nós outros. Então,
Atendia no balcão
Com o seu jeitão de artista.
Quase me saiu da lista
Pois eu havia esquecido
Do meu colega querido.
A ele peço desculpa,
Afirmando não ter culpa.
É a idade, não duvido.

Renato, uma criatura
De docilidade inata,
Vindo, de recente data,
De uma loja linha dura
Do comércio, que é loucura!
Depois vamos trabalhar
Também num mesmo lugar
Na COSERN onde teremos
Mais futuro. Venceremos!
Até nos aposentar.

Assis, muito bem casado,
Sério, porém sem chatice.
Não é de disse me disse,
Mas está do nosso lado
Qualquer que seja o babado.
Dos papos participando
Mas com jeito comentando
Para a ninguém ofender,
Nos dando o seu parecer
Porém só de quando e quando.

Elpídio, um bom rapaz!
Afável, bem educado,
Um vendedor dedicado.
Eu o achava incapaz
De maldade. Era da paz!
Nunca fez por merecer
Que nisso eu fosse descrer.
O vejo de vez em quando.
Continua trabalhando
Para o seu sobreviver.

Raimundo, o colega “Grande”,
Era um irmão verdadeiro!
Sempre animado e fagueiro,
A sua alegria expande...
Aonde quer que lhe mande
Ele vai sem reclamar,
Não sem antes convidar
A turma pra sua casa.
Como anfitrião arrasa!
Sabe como bem tratar.
 
Algum tempo, uma mudança
Já vem para balançar
A turma. Se irão gostar
Não se sabe. Porém lança
Prós e contras na balança.
Mudou, enfim, a gerência!
Félix com experiência,
Num solo, entra em ação:
É o vizinho FELIZÃO,
Criado com competência.

A “SEM NOME” continua,
Agora, sob o comando
De um dos donos que o mando,
De uma forma justa, atua.
José Jatobá, a sua
Lembrança ainda é presente,
Com carinho, em minha mente.
Muito embora a minha vida
Mudasse ao ser demitida,
Foste justo e consciente.

Djalma, o subgerente,
Não digo que fosse tal!
Sua palavra é letal.
E um tanto inconsequente,
Tornou-se ao se ver um ente
Que tem nas mãos o poder
E fez-me por merecer
Uma tal de suspensão
Que findou em demissão.
Disto não posso esquecer.

Dedezinha, ao escritório
Chamou-me para assinar
A dispensa, e pra marcar
O dia em que o irrisório
Salário, mais que simplório,
A casa me pagaria,
Então me dispensaria
Pra procurar outro emprego.
Eu não lhes pedi arrego
Inda fingi alegria.
 
Termino ainda sonhando
Um dia alguns encontrar
Para a gente festejar
Aqui, onde estou criando
Um ambiente inefando
Só de poesia e paz.
Esse meu pensar me faz
Lutar para acontecer
Esse encontro que ao meu ser,
Com toda certeza, apraz.


Rosa Regis
 
Iniciado em fevereiro de 2011
Concluído em setembro de 2016
Revisado em 27.02.2020
Rosa Regis
Enviado por Rosa Regis em 22/01/2021
Alterado em 24/01/2021
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