A GALINHA MARICOTA
E SEU FILHO DIFERENTE
Certa vez uma galinha,
Quando inda se costumava
Por ovos para chocar
Sob a mesma e ela ficava
Vinte e dois dias chocando
Enquanto o pinto gerava,
Num dia determinado
Pra cada pinto nascer
Bicando as cascas dos ovos
Começando a aparecer
Os pintinhos, algo estranho,
Veio esta a perceber:
Um deles era pretinho,
Tinha o pescoço comprido
Sem penas, e avermelhado,
Como se tivesse sido
Depenado por alguém.
Mas não fazia sentido!
Bondosamente o tratou
Com o mesmo amor e carinho
Que tratava todos eles!
Onde: cada um pintinho
Punha pra dormir consigo,
Debaixo dela, no ninho.
Porém os seus irmãozinhos,
À medida que cresciam,
Buscavam sempre afastá-lo
De tudo que eles faziam.
Não deixavam que brincasse
Com eles. Não permitiam.
Maricota que era mãe
Percebendo a rejeição
Que o pintinho diferente
Provocava em cada irmão,
Convocou cada um deles
Para uma reunião.
E já começou dizendo:
- Meus filhos! Quero saber
O que é que está havendo!
Eu não consigo entender.
O Epitácio anda triste!
Alguém tem algo a dizer?
Eu vejo sempre vocês
Comendo e fazendo festa
Enquanto ele, sozinho,
Calado... O que isso atesta
É que está sendo excluído!
É a resposta que me resta.
E aí, quem abre o jogo?!
Quem é que vai começar
A me dizer o porquê,
Sem nas letras tropeçar!
Por que nenhum de vocês
Quer com seu irmão brincar?
Os pintos todos calados
Sem saber o que dizer
À mamãe, já asa em riste,
Com muita raiva, a tremer:
- Vocês não estão percebendo
O quanto isto o faz sofrer?
- Eu vou contar uma história
Que ouvi quando criancinha
De um patinho desprezado
Até por sua mãezinha
E que saiu pelo mundo
Chorando a sorte mesquinha.
Chamado “Patinho feio”
Porque nasceu diferente
De todos os seus irmãos
Que, inconscientemente,
O tratavam com desprezo
De forma inconveniente.
Sentindo-se desprezado
Ele saiu pelo mundo
Chorando desconsolado,
Num sofrimento profundo,
Com fome e frio. O desgosto
Não o deixava um segundo.
E todos os animais
Que encontrou pelo caminho
Faziam troça se riam,
Dele fazendo escarninho.
Mas, sem esperar, um dia,
Foi tratado com carinho.
Refugiado num lago,
Ouviu alguém que dizia:
- Olha que cisne bonito!
Nem imaginou que seria
De si que aquilo era dito.
Jamais imaginaria.
Mas depois viu que era sim!
Aí ele percebeu
Que era mesmo um belo cisne!
Daí pra frente se deu
A sua transformação.
O sofrimento esqueceu.
Terminando sua história
Dona Maricota viu
Que cada pinto, calado,
Alguma coisa sentiu.
Mas, fingindo indiferença,
Maricota advertiu:
- Não vão para muito longe
Ao saírem pra ciscar!
Porque algum gavião
Pode por aqui passar,
Vocês são muito pequenos!
Não poderão escapar.
Isso deixou os pintinhos
Pensando naquele irmão
Que vivia tão tristonho,
Carecido da atenção
E do carinho negado
Por eles, sem exceção,
Que ele poderia ir
Embora e não mais voltar
Ou mesmo que o gavião
Poderia lhe pegar!
Eles seriam culpados!
Tremem com este pensar.
Procuram pelo o irmão
E o encontram escondido
Num cantinho, pesaroso,
Desgostoso e ressentido
Pensando que a sua vida
Era triste e sem sentido.
- Epitácio! É seu irmão
Que por ele está chamando.
Foi esta a primeira vez
Que ouve um deles falando
Consigo, já fica alerta!
Temendo dele um desmando.
- O que é? Responde baixo.
Se perguntando o motivo
Deles virem procura-lo.
Será que sairá vivo
Dali? se é tão odiado?!
Seu pensar vagueia ativo.
Mas seus irmãos só queriam
Ao mesmo pedir perdão
Por tudo que tinham feito!
Pela falta de atenção,
Pelo desamor mostrado,
Dizendo: - É de coração!
Correm juntos pra contar
A nova pra Maricota
Que ouve tudo calada
Porém a feição denota
O quanto ela está feliz
Mas nenhum pintinho nota.
Nenhum não! Pois Epitácio,
Sendo um pinto perspicaz,
Observa que a mamãe
Deu um passo para trás,
Parando e curtindo a nova
Que um a um pinto traz.
Daquele dia em diante
O pintinho desprezado
Passou a participar
De tudo e foi convidado
A conhecer outros pintos.
Sentiu-se emocionado!
E sendo um pinto de raça
Mais forte ele defendia
Seus irmãos e sua mãe
Se algo ruim acontecia.
Até mesmo o gavião
Ninguém ali mais temia.
De porte firme e elegante
Começou ser procurado
Pra representar o bairro,
A cidade e o Estado,
Sendo, nacionalmente,
Reconhecido e louvado.
Ganhou medalha de ouro
Por ser bonito e garboso!
A sua mãe, orgulhosa,
Do seu “filhote formoso”
Festejava com a família
Agora o filho famoso.
Vemos nesta bela história
Que devemos respeitar
Nosso irmão ou nossa irmã
Sem tentar nos arvorar
A ser melhor que ninguém!
E, sem restrição, amar.
O AMOR é chave do BEM.
O AMOR é compreensão.
O AMOR é reconhecer
No diferente um irmão.
Amemos a DIFERENÇA
Seja de cor ou de crença
Ou de qualquer opção.
Rosa Regis
Natal/RN - 2021