Sem noção de amor fraterno// O homem agride o irmão,// Num ato que mostra o inferno// Que traz no seu coração.
Rosa Regis Brincando com os Versos
Pensares que se transformam //espalhando poesia, //pegam carona no vento// enchem meu ser de alegria
Textos

AOS MÁRTIRES DE CUNHAÚ

E AOS DE URUAÇU

 

A chacina de Cunhaú

 

No Século Dezessete,

No Ano 45,

Dia 16 de julho,

Eu estudei com afinco,

Um ato de crueldade

Aconteceu de verdade:

Houve tortura! Não brinco.

 

Padre André de Souveral

E mais setenta fiéis,

Foram cruelmente mortos

Por soldados infiéis

Enviados da Holanda

Que o calvinismo comanda

Com o ódio como viés.

 

Eram 200 soldados

Holandeses reunidos

Aos índios potiguares

Que verdadeiros bandidos

Tornam-se participando

Da chacina ao comando

De um poder sem sentido.

 

Os fiéis participavam

Da missa dominical

Na Capela[i] quando foram

Massacrados pelo mal

Da intolerância viva

Que o grande ódio ativa

No homem e o torna um chacal.

 

Como tudo começou

 

O clima no Rio Grande

Do Norte estava normal,

Ou assim parecia. Até

Que a personagem do mal,

Jacó Robe[ii] vem fazer

O inferno, ali, arder,

Num massacre sem igual.

 

Chegando no dia 15[iii]

Trouxe consigo a tensão

Acompanhado que vem

De índios sem coração:

Tapuias. E que transmite

O que em seu ser existe:

Ódio e a destruição.

 

Para aquele povo simples

Que só tem no coração

O imenso amor a Cristo

O Rabe, o anti-cristão,

Com seus tapuias ferozes,

Uns verdadeiros algozes,

São seres da danação.

 

Também índios potiguares

O Jacó Rabe trazia.

E soldados holandeses.

Para o povo, se dizia

Mensageiro do Supremo

Conselho[iv]. Era mesmo o demo.

Com o mal se divertia..

 

E no dia 16

De julho a missa sagrada

Do Domingo pelo Padre

André[v] sendo celebrada,

Recebe de sopetão,

Visita da “danação”!

Jacó não respeita nada.

 

De antemão, Jacó Rabe

Ordenou alguém fixar

Na entrada da igreja

Edital a convocar

Todos eles para virem

Após a missa ouvirem

As Ordens[vi] que tinha a dar.

 

Chegando a hora da missa

Começa a celebração.

O mau Jacó Rabe espera,

Malévolo, a elevação,

Que a atenção dos fiéis,

Prende. E, aí, de revés,

Age o ser sem coração

 

A um sinal de Jacó,

A Igreja foi fechada.

Sendo portas e janelas

Por sua tropa, tomadas.

E a plateia, inocente,

Foi morta covardemente.

E sem reação de nada.

 

Ao perceber que seriam,

Sem pena, sacrificados,

Nenhum deles rebelou-se.

Ao contrário, massacrados,

Confessam-se a Jesus

Cristo – o Filho da Luz.

Pedem perdão pros pecados,

 

Enquanto o Padre André,

Já morrendo ainda vem

Em socorro dos fiéis

Enxotando-lhes a bem

Morrer. E ainda fia

“O ofício da agonia”,

Pois sua fé o sustém.

 

A Chacina de Uruaçu

 

Três meses são decorridos.

E aí vem Uruaçu[vii].

Pelas mãos dos holandeses,

Tal qual lá em Cunhaú,

O martírio de oitenta

Pessoas. Que não contenta

Os corações de urubu.

 

Entre eles, Mateus Moreira,

Que teve seu coração

Arrancado pelas costas,

Enquanto, em oração,

Ele louvava ao Santíssimo

Sacramento. Perfeitíssimo!

Na fé, era o nosso irmão.

 

Antônio Paraopaba,

Que era um chefe potiguar,

Foi ajudante de Robe

Pelo prazer de ajudar

No massacre, na tortura.

Aquela vil criatura

Tinha prazer em matar.

 

As vítimas tanto sofriam

Que pediam pra morrer.

Porém entregue aos tapuias,

É até difícil crer,

Estes os despedaçavam

Vivos. Suas línguas cortavam,

Só para vê-los sofrer.

 

Arrancavam-lhes os olhos

Sem dó e sem piedade,

Pois pra eles o tormento

Dos mártires, na verdade,

Servia de gozação.

E falar de compaixão

É fuga à realidade.

 

Processo de beatificação

 

Falemos agora um pouco

Da beatificação

Dos Mártires de Uruaçu

E de Cunhaú. Ação

Que o povo aceita e aprova.

E isto é mais uma prova

Da nossa veneração.

 

Os mártires de Uruaçu

E de Cunhaú estão,

E já faz bastante tempo,

Em cada um coração

Do nordestino que sabe

Que a cada um deles cabe,

Amor e veneração.

 

Defensores da Fé Católica,

Têm os mártires, por direito,

Serem beatificados.

Isto é por todos aceito.

O Decreto[viii] foi assinado

Pelo papa, e carimbado.

Beatos foram eleitos.

 

 

Fim

Rosa Regis

 

Natal/RN – 01 de outubro de 2008

Reeditado em outubro de 2023.

 


[i] Capela de Nossa Senhora das Candeias, no Engenho Cunhaú - no município de Canguaretama (RN).

[ii] Jacó Robe – um alemão a serviço dos holandeses.

[iii] 15 de junho de 1645.

[iv] Supremo Conselho Holandês do Recife.

[v] Padre André de Soveral.

[vi] Ordens do Supremo Conselho.

[vii] Uruaçu – São Gonçalo do Amarante – a 18 km de Natal.

[viii] Em 21 de dezembro de 1998, o Papa João Paulo II assinou o Decreto reconhecendo o martírio de 30 brasileiros, sendo dois sacerdortes e 28 leigos.

 

 

www.rosaregispoetisa.net

rosaregis3erres@yahoo.com.br

rosaregisdocordel@gmail.com

 

 

 

 

 

 

 

 

Biografia atualizada em 2023

 

ROSA REGIS (Rosa Ramos Regis da Silva), nasceu em 1949, paraibana do Sítio Jerimum, município de Jacaraú-PB (  reside Natal/RN desde 1966 ), É filha do agricultor de terra alheia: Fortunato Ramos Regis, e da dona de casa: Maria Joaquina de Farias (ambos falecidos); graduada em Economia (Bacharel), e em Filosofia (Bacharel e Licenciada), pela UFRN, Aposentada pela  COSERN-Natal/RN, onde trabalhou durante 21 anos; Professora de Filosofia para o Ensino Médio pela SEEC-RN desde novembro de 2008, quando teve sua nomeação publicada no Diário Oficial do Estado do RN. É cordelista, contista, sonetista e trovadora. Faz parte de algumas associações e academias culturais, dentre elas: a ANLIC- Academia Norte-Rio-grandense de Literatura de Cordel (presidente fundadora 2011-2014); SPVA-RN – Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do RN;  UBE-RN – União Brasileira de Escritores no RN; ATRN – Academia de Trovas do RN. É  Cidadã Natalense, conforme DECRETO LEGISLATIVO Nº 1274/2016, da CÃMARA MUNICIPAL DE NATAL/RN. Tem 9 livros publicados (de Literatura de Cordel, de Sonetos, de Contos e Infantis)

 

 

Rosa Regis
Enviado por Rosa Regis em 03/10/2023
Alterado em 03/10/2023
Comentários