A HISTÓRIA DE UM NORDESTINO
SEU DESTINO, SUA SORTE
Nosso Sertão Nordestino
É mesmo uma belezura!
Quando chove dá de tudo
Que se planta com fartura
Porém se não chove a seca
Torna nossa vida dura.
Mas o povo nordestino
É um povo muito forte,
Resistente às intempéries
Que ele aceita como sorte,
Agradecendo ao Bom Deus
Pela vida e pela morte.
Porém quando a terra nega
Para o pobre o alimento
Ele, com tristeza vê
Que é este o triste momento
De deixar seu habitat
Em busca de um rendimento.
Sebastião de Santina
Era um jovem sertanejo
Que a vida dura do campo
Encheu de um grande desejo
De desbravar outros mundos.
Só esperava o ensejo.
Casado, fazia um ano,
Porém já tinha um filhinho.
Um dia ele decidiu:
Poria o pé no caminho,
Iria para São Paulo,
Mas não iria sozinho.
Madalena ia consigo,
Tiãozinho ia também.
Sua cabrinha Cecília
Ele trocou no armazém
Por um pouco de comida
Em um valor bem aquém.
Junta os trapos numa trouxa
E noutra, com o alimento,
Bota um papeiro sem cabo,
Colheres... Chega o momento,
Joga a cangalha e os troços
Em cima do seu jumento.
Forra com alguns molambos
Aquela cangalha dura,
Monta a mulher e seu filho,
Tão pequenina figura
Que não tem sequer noção
Daquela triste aventura.
Às cinco horas da tarde
O nosso Sebastião,
Aproveitando o sol frio,
Com seu triste coração
Apertado, pega a estrada,
Deixando o amado torrão.
Têm que andar a noite inteira
Aproveitando o luar
E a frieza da noite
Para conseguir chegar
Ao povoado mais próximo
Aonde irão embarcar.
E chegam de manhãzinha,
Às cinco da madrugada,
O Rei Sol já vem surgindo
Por trás da nuvem barrada
De cinza, com um filete
De ouro bem rebordada.
Porém o nosso matuto
A tal não presta atenção,
O seu peito, dolorido,
É só preocupação
Pois vai partir para longe
Do seu querido torrão.
Seu dinheiro é muito pouco
E sendo assim a viagem
Será feita sem conforto
Pois o valor da passagem
É quem diz os seus direitos,
Sem à perguntas dar margem.
Quatro dias pra chegar
Ao local determinado.
Sebastião, como os outros,
Chega de corpo quebrado
Ao final da linha. Aí,
Cada qual vai pro seu lado.
Não há ninguém esperando.
Sem saber para onde ir,
Sem dinheiro para nada
Busca um lugar pra dormir
Na própria rodoviária
E acaba por conseguir.
No outro dia, cedinho,
É pelo guarda acordado
Que vem, sem nenhum carinho,
Fazer-lhe o comunicado
Que deverá se mandar.
É da “chefia”, o recado.
Sebastião cujo estômago
Já está roncando de fome,
Pega a mulher e o filho
Cujo mesmo mal consome,
E, em meio à multidão,
Mais um nordestino some.
Um não. Pois aqui são três
Que, em meio à multidão,
Sem roupa, sem alimento,
Sem nenhuma condição
De vida, teimam em viver,
Buscando uma solução.
Se escoram num viaduto
Procurando descansar
Um pouco e porque a fome
Já não os permite andar.
E aí aparece alguém
Pra com eles conversar.
Comem algo oferecido
Pelo antigo morador
Do viaduto que diz
Ser também um agricultor
Sertanejo que, no peito,
Guarda de saudade, a dor.
Vão ficando por ali
Pois não têm onde morar.
Mas Sebastião, que é jovem,
Decide, quer trabalhar!
E na construção civil
Ele busca se engajar.
Como servente se arranja
E vão morar de aluguel.
Sua mulher engravida,
Tem mais um filho: Miguel.
Depois vem o Severino
E a Maria Isabel.
Daqui a pouco são dez
Bocas para sustentar.
Sebastião, esperanças
Já não conduz de voltar.
Porém Deus, a quem promete,
Garante, não vai faltar.
Maria Isabel, que tem,
Agora, dezesseis anos,
Sabe que seu pai querido
Foi pra São Paulo com planos
De um dia poder voltar
Mas só teve desenganos,
Ao ver na Televisão,
No barraco onde morava,
Um programa que dizia
Que oferecia que dava
Uma viagem-retorno
Àquele que desejava
Pois que, morando em São Paulo,
Fosse de qualquer lugar,
A família que quisesse
Ao seu seio retornar,
Que escrevesse uma carta
Pra poder participar.
Decidiu por escrever
E sua história contar
Ou seja: a história dos pais
Que viviam a comentar,
Com tristeza, o seu desejo
De ao Nordeste retornar.
E o “milagre” aconteceu!
Certo dia Daniel,
Um dos irmãos, vem gritando
Por sua mana Isabel
Trazendo na mão direita
Um pedaço de papel.
- Bebel, tão te procurando,
E é da Televisão!
Isabel sente pulsar-lhe,
Disparado, o coração,
Quando vê a vizinhança
Em crescente agitação.
É mesmo a Televisão!
Isabel foi procurada
Pois a carta que escrevera
Tinha sido sorteada
Entre milhares de outras.
De emoção, fica engasgada.
É o sonho do seu pai
Que vai se realizar,
Pra sua terra querida
No Sertão irá voltar
Juntamente com a família.
É o milagre que se dá.
Sebastião agradece,
Com o peito a pulsar forte,
A Deus; a Televisão
E à filha por sua sorte
De retornar ao Sertão
Do Rio Grande do Norte.
Natal/RN – 2011
Rosa Regis