Montanhas, belo nome, bela terra que traz-me à lembrança a minha infância quando o pensar no passado erra.
Sinto a alma buscando, como em ânsia, as lembranças perdidas no passado que se perderam por não haver constância. As missas, as novenas, o assustado, que reuniam toda a garotada, as brigas... o primeiro namorado...
A lavagem de roupa programada no Rio Pirari dos ‘’Azevedo’’ com o banho de açude arrematda.
A lagoa não nos causava medo! Nos finais de semana aproveitava para nela meter-me logo cedo.
Nadava, nadava e mais nadava enquanto a minha mãe lavava pratos. E a roupa, ensaboada, ao sol quarava.
As festas de São João, os aparatos... As cores da barraca, as bandeirinha... Os leilões, armadilhas para os ‘’patos’’...
Carrosel empurrado, os cavalinhos de madeira em cores variadas... O empurrador que dava seus pulinhos...
As meninas com roupas enfeitadas com babadinhos ou laços de fita... Em seus rostos pintinhas desenhadas.
Cada qual que se achasse mais bonita, querendo se mostrar para os meninos dentro de um belo vestido de chita.
Dos bailes à radiola – bailes finos, na residência de quem a possuía, até as nove, ao bater dos sinos.
Os sinos do motor, que quem batia era o controlador, em obediência a ele exigida, todo dia.
Às nove em ponto, já tendo ciência, a cidade toda em puro breu, nada se via! só a consciência.
Mas as estrelas, no céu, crente ou ateu encantava e dava a direção, como a lua também sempre nos deu.
Das festanças de Reis, meu coração ainda bate forte ao me lembrar. Grandes festejos! Comemoração.
Quem pudesse podia passear na velha ‘’sopa’’[i] até ‘’Vila Nova’’. Tinha as ‘’canoas’’ para balançar.
A missa à meia noite, que renova retirando o pecado adquirido durante a festa e que Deus Pai reprova.
Nas barracas, em leilão oferecido um frango assado sendo arrematado pelo prefeito ou um seu conhecido.
Tudo que foi de ‘’esmola’’[ii], foi doado, em sendo arrematado, o que rendesse seria à Madre Igreja ofertado.
Café com pão, café com pão... parado, meu coração saudoso lembra o trem que matou minha sede no passado.
E o trem d’água, vagaroso, vem trazendo a água para quem faltou, para quem tem dinheiro e quem não tem.
Rosinha, na carreira, escorregou... O joelho ficou em carne viva! A lata ‘’jacaré’’ toda amassou.
Mas garantiu, na marra, sendo ativa, a água da semana pra família. E da mamãe recebe um grande viva!
A sua casa simples, sem mobília, era, por outro lado, eu garanto, tal qual o Sítio onde mora Emília:
Repleta de alegria em todo canto.
Rosa Regis Natal/RN 19.09.2017 – 12:06 (Hora do almoço na E. E. T. I. Winston Churchill)
[i] Sopa – um coletivo que transportava a população festeira até Vila Nova (hoje Pedro Velho-RN), num passeio turístico.
[ii] Esmola – aqui refere-se ao que era conseguido pelas pessoas que compunham a diocese, pedindo a população do município.